Na primeira década do século XIX, quando a região de Uberaba era ainda desconhecida e habitada pelos caiapós, começaram as incursões organizadas no Desemboque.
Criado primeiramente o arraial da Capelinha por volta de 1812 por José Francisco de Azevedo e outros nas proximidades do atual bairro rural de Santa Rosa, o então capitão Antônio Eustáquio da Silva Oliveira, na sua segunda vinda à região em 1812, achando o local inadequado para o desenvolvimento de uma povoação, seguiu mais uns 12 (doze) quilômetros a oeste e se afazendou nesse mesmo ano às margens do córrego das Lajes, próximo à sua junção com o rio Uberaba, fundando, em fins de 1816 “ou mesmo no começo do ano seguinte” (Hildebrando Pontes, História de Uberaba, p. 563, também no blog Bibliografia Sobre Uberaba), a povoação que viria a se tornar Uberaba e que em 1817 recebeu todos os habitantes do arraial da Capelinha que para ela se deslocaram.
Antes disso, porém, no arraial da Capelinha, em 1815, além de escola feminina implementada pela professora Eufrásia Gonçalves Pimenta, foi organizada e dirigida por Silvério Bernardes Ferreira a primeira corporação musical local, conhecida como banda dos Bernardes, que, também transferida em 1817 para o povoado de Antônio Eustáquio, durou até 1850.
Notáveis em todos os sentidos foram as visitas ao povoado nascente, entre 1816 e 1823, de viajantes europeus, que deixaram suas impressões em livros editados posteriormente.
Em outubro de 1816, passagem do sábio alemão barão de Eschwege pela aldeia do Lanhoso e estada no arraial do Lajeado ou da Capelinha, registrada na obra Brasil, Novo Mundo.
Em 1818, visitou a futura Uberaba o viajante e estudioso português de ascendência francesa Luís d’Alincourt, que a registrou no livro Memória Sobre a Viagem do Porto de Santos à Cidade de Cuiabá.
Já no ano seguinte, em setembro, esteve no povoado, permanecendo de cinco a seis dias, o sábio francês Auguste de Saint-Hilaire, descrevendo-o na obra Viagem à Província de Goiás.
Em 1823, o arraial recebeu a segunda visita de Luís d’Alincourt, que escreveu, no livro acima citado, que “causa prazer notar o quanto este arraial tem aumentado no curto espaço de tempo, que há decorrido desde 1818, até este ano de 1823! A população da freguesia anda em dual mil almas de confissão; o negócio é grande, vão-se formando ruas, as casas são em muito maior número, e quase todas cobertas de telhas; e os sítios e fazendas das circunvizinhanças têm-se multiplicado; muitas famílias de Minas, aqui se têm vindo estabelecer”.
Pouco a pouco, no decorrer dos anos, foram surgindo outras manifestações culturais no então simples arraial, pela atuação do padre Antônio José da Silva, poeta, primeiro vigário e primeiro historiador de Uberaba, autor do ensaio História Topográfica da Freguesia do Uberaba – Vulgo Farinha Podre (Uberaba, Academia de Letras do Triângulo Mineiro, 1970, também no blog Bibliografia Sobre Uberaba); do padre Zeferino Batista Carmo, grande incentivador do teatro, da música e das corporações musicais, e do padre Francisco Ferreira da Rocha, professor de Português e Latim.
Em outubro de 1827, o padre Leandro Rabelo Peixoto e Castro escreveu sua regionalmente célebre carta ao presidente da província de Minas Gerais, José Teixeira de Vasconcelos, sobre o Sertão da Farinha Podre, comparável, mutatis mutandis, à histórica carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal sobre o Brasil.
Mudaram-se então para Uberaba, entre outros: em 1821, o solicitador Cândido Justiniano de Lira Gama; em 1829, João Joaquim da Silva Guimarães, trazendo seu filho, o futuro romancista Bernardo Guimarães, então com quatro anos de idade, e ainda possivelmente nesse ano, o capitão Domingos da Silva Oliveira, irmão do major Eustáquio.
Em 1835, conforme Hildebrando Pontes (Vida, Casos e Perfis, p. 52), Cândido Justiniano de Lira Gama, seu genro Antônio Cesário da Silva e Oliveira Sênior, o coronel Carlos José da Silva, irmão do vigário Silva, e padre Zeferino Batista Carmo introduziram o teatro em Uberaba, sendo este, como diretor cênico, o “iniciador da arte dramática nesta cidade” (Hildebrando Pontes, A Arte Dramática em Uberaba).
Por essa época foi escrita a peça teatral Colégio de D. Abelha, por Antônio Cesário da Silva e Oliveira Sênior, considerada por Hildebrando Pontes como a primeira obra literária aqui elaborada, que introduziu concomitantemente com Martins Pena no Rio de Janeiro o teatro de costumes no país. Dessa época também os poemas de vigário Silva e de seu irmão, João Joaquim da Silva Guimarães, vereador na primeira legislatura da Câmara de Uberaba e pai do futuro romancista e poeta Bernardo Guimarães.
Segundo Edelweiss Teixeira, em 1824/25, Uberaba tinha duas escolas particulares de primeiras letras (O Triângulo Mineiro Nos Oitocentos, p. 138).
Posteriormente a 1838, segundo Hildebrando Pontes, entrou em atividade a primeira escola pública provincial da vila, instalada pelo professor Joaquim Marques Rodrigues, afirmando, porém, o historiador Edelweiss Teixeira, que “em 1849 foi provida escola pública” (op. cit., p. 138).
Em 1847, chegaram a Uberaba, entre outros, Antônio Borges Sampaio e os médicos e cientistas suecos André Frederik Regnell e Augusto Westin.
De 1847 a 1850, período em que clinicou em Uberaba, Regnell descobriu, estudou e catalogou, cientificamente, mais de 70 (setenta) espécies de plantas, quase todas medicinais, conforme narrou José Soares Bilharinho na História da Medicina em Uberaba (vol I, p. 131/132).
Além deles, também aportaram em Uberaba, nesse mesmo ano de 1847, o médico Salatiel de Araújo Braga e, em 1848, o industrial e comerciante português Luís Soares Pinheiro, que terá relevante papel na reconstrução do teatro da cidade.