Desconhece-se, pelo menos por enquanto, a data exata de construção do retiro da fazenda do major Eustáquio na esquina da praça Rui Barbosa com a rua Arthur Machado, que assinala a fundação de Uberaba e ocorreu em fins de 1816 ou inícios de 1817, conforme indica Hildebrando Pontes, e se comprova pelo testemunho presencial dos viajantes estrangeiros (barão de Eschwege, d’Alincourt e Saint-Hilaire), que aqui estiveram em 1816, 1818, 1819 e 1823.
Assim, a Uberaba propriamente dita não existia ainda quando, em 1815, organizou-se a banda dos Bernardes no arraial da Capelinha, fundado em 1812 por José Francisco Azevedo e outros em área do atual bairro rural de Santa Rosa, banda transferida, como todos os habitantes do dito arraial, para o nascente e florescente povoado de major Eustáquio em 1817.
A partir daí, acompanhando o desenvolvimento desse povoado, depois freguesia (02/03/1820), vila (lei provincial de 22/02/1836), instalação da Câmara Municipal (07/01/1837), Comarca (23/03/1840) e, finalmente, cidade, título honorífico (lei provincial de 02/05/1856), nunca mais Uberaba deixou de apresentar manifestações culturais e artísticas, bastando observar, no que toca à música, que a referida banda durou 35 (trinta e cinco) anos, sendo sucedida dois anos depois pela banda União Uberabense, que até 1908 participou e animou as festividades ocorridas na cidade, além dela própria se constituir atração à parte. Após ela, seguiram-se outras e diversificadas bandas e orquestras.
Com o tempo, outras demonstrações artísticas vieram somar-se à musical, a exemplo de poesia, teatro, artes plásticas, surgidas mais ou menos nessa ordem, compondo ambiente cultural e artístico que, conquanto não ainda criativo e inventivo, como, aliás, também não o era o do país à época, refletia, mantinha e dava curso às influências artístico-culturais europeias então existentes.
Toda essa atividade não poderia permanecer restrita apenas a levantamentos setoriais e isolados, não obstante excelentes (“A Música em Uberaba”, de Borges Sampaio; “A Arte Dramática em Uberaba – O Teatro São Luís”, de Hildebrando Pontes, por exemplo), ou restrita a capítulos de livros. Indispensáveis sua reunião e ordenamento.
Em decorrência disso, procedeu-se à presente narrativa, que não constitui história das artes em Uberaba, porém, simples desfilar nominativo e sintético das principais exteriorizações artístico-culturais ocorridas na cidade nesses dois primeiros séculos de sua existência.
Não se procure, nele, no entanto, repertório completo das ocorrências culturais uberabenses, nem muito menos sua descrição minuciosa, visto que, dadas as fontes acessíveis, objetivou-se e restringiu-se tão somente a relacionar algumas das mais importantes e significativas, como primeiro passo para que a futura historiografia do município realmente se abalance a elaborar a história cultural de Uberaba, como convém e é necessário.
Assim, pois, esse panorama cultural da cidade ainda não passa, não pretende e nem pode ser mais do que breve síntese sobre o assunto, a demandar, para deixar de ser breve e de ser síntese, maior tempo de pesquisa e maior espaço para exposição, servindo apenas de indicativo e de superficial informação da intensa atividade cultural de Uberaba.