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O mundo armado: indústria letal

Guido Bilharinho
Publicado em 26/10/2024 às 17:49
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As pessoas preocupadas com o ambiente e com a preservação do patrimônio cultural geralmente não atentam para o aumento crescente da população e nem para o perigo nuclear, que, este, em caso de acidente ou guerra, não só afetará o ambiente e o patrimônio cultural, como, dadas as proporções do conflito ou do acidente, o arrasará, anulando todo o esforço para sua preservação.

Os EUA esforçam-se para impedir a construção de artefatos nucleares pelos países que não os possuem, empenhando-se nesse sentido atualmente com a Coreia do Norte e o Irã.

Contudo, não se empenham em se desnuclearizar num acordo geral com os demais países detentores da bomba. Ao contrário, sob o governo Trump, retirou-se de dois tratados fundamentais sob a perspectiva de, pelo menos, contenção da produção armamentista, o tratado com a Rússia para controle de mísseis e com o Irã.

Mas, em questão armamentista, há aspecto menos dantesco, que é a permanente, acelerada (e também monstruosa) fabricação de armas em geral.

Essa indústria e o comércio que acarreta assumem proporções gigantescas tanto em destrutividade quanto em dispendiosidade.

O primeiro caso é de fácil compreensão, visto que toda arma é agressiva e destrutiva, sendo vão, capcioso e pretextual o argumento de que são fabricadas e utilizadas para defesa. Se são para defesa, é porque se pressupõe a possibilidade de haver ou já ter ocorrido anterior agressão, eis que, nesta hipótese, aquela não precede a essa e, se o fizesse, seria para agredir, e não para se defender.

No segundo caso, o dispêndio e a sangria monetária e econômico-financeira para construí-las e mantê-las são exorbitantes, permanentes e crescentes.

Os recursos destinados à fabricação e aperfeiçoamento (igual maior letalidade) dos arsenais de quase todos os países (exceto os abaixo indicados) são desviados da aplicação e atendimento das necessidades e do bem-estar das populações em educação, cultura, moradia, saúde, saneamento, infraestrutura em geral e preservação ambiental e do patrimônio cultural.

Tão grave quanto isso é que ninguém, a não ser uma ou outra pessoa, se dá por isso. Não há campanhas desarmamentistas e nem ao menos debates sobre essa questão.

Para ilustrar o fabuloso desvio de recursos – muito mais do que qualquer corrupção – com a fabricação, promoção e comercialização de armas (instrumentos inúteis e desnecessários), basta atentar para as aquisições armamentistas procedidas anos atrás pela Turquia.

A Turquia (o pato daquela vez) negociou a aquisição de lançadores de mísseis S-400 da Rússia pelo valor de 2,5 bilhões de dólares (mais ou menos 10 bilhões de reais). Isso, no entanto, não lhe bastou, pretendendo adquirir ainda cem caças da quinta geração de aviões F-35 dos EUA, custando, CADA UM deles, cem milhões de dólares (mais ou menos quatrocentos milhões de reais), no importe total desse negócio macabro de dez bilhões de dólares.

Não só isso, porém. Além dos permanentes e vultosos custos de manutenção, dentro de alguns anos todo esse armamento estará obsoleto e ultrapassado, voltando o (des)governo turco a efetuar novas e bilionárias aquisições armamentistas.

Todas essas armas e todo esse dinheiro gasto não produzem nada e em nada contribuem para o progresso do país e o bem-estar de seu povo. Muito ao contrário.

Porém, o mais grave e escabroso é que todos os países (salvo Costa Rica, Andorra, Dominica, Granada, Vaticano, Kiribati, Samoa e mais meia dúzia de outras minúsculas nações) fazem isso, desviando e gastando bilhões que poderiam e deveriam (se o ser humano fosse racional) ser aplicados para o fomento das atividades produtivas do bem-estar do povo e da preservação ambiental e do patrimônio cultural.

Contudo, repita-se, mais grave (e hediondo) do que isso é que ninguém (exceto raras, isoladas e não ouvidas pessoas) se importa com essa indústria da morte.

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