ARTICULISTAS

Ficar em silêncio

Heloisa Helena Valladares Ribeiro
Publicado em 13/02/2025 às 19:24
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A letra da música “Certas Coisas”, de Lulu Santos (71) – “Eu te amo calado/Como quem ouve uma sinfonia/De silêncios e de luz/Nós somos medo e desejo/Somos feitos de silêncio e som/Tem certas coisas que eu não sei dizer...” –, provoca-nos uma grande reflexão; atualmente, não conseguimos ficar em silêncio.

Somos bombardeados por informações, principalmente quando estamos acordados. Na hora do almoço, raramente fazemos silêncio, muitos usam as redes sociais enquanto comem. Nosso cérebro não silencia.

O silêncio combina com calmaria, com foco, com direção. Quando estiver nervoso, basta colocar água na boca e segurá-la que conseguirá ficar em silêncio. Quando ouvimos, prestamos muito mais atenção do que quando nos justificamos. Aprender a ouvir e a responder com o silêncio não é derrota, é amadurecimento.

O que tem chamado a atenção é que não há mais silêncio nos velórios, o espaço se tornou local não só para amigos, familiares, mas também para reencontros. Durante a cerimônia, falam alto, ao mesmo tempo e demasiadamente; como se fosse natural, ignoram o espírito desencarnado e a dor dos parentes. Há muita inconveniência nos funerais. Alguns querem justificar o falecimento, desconhecendo os desígnios de Deus. Nesse momento, o silêncio vale ouro. A memória daquele que deixou o corpo físico merece respeito, afinal de contas, o juízo final está na consciência. A família se sente fortalecida quando narrado algum fato ou gesto do morto que expressa bondade, amor ou alegria.

Certa feita, ouvi que, após o velório de um suicida, alguns conhecidos foram beber o falecido; tudo certo, a cada um será dado segundo suas obras. Segundo Eclesiastes, Capítulo 7, versículo 2: É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério!

O silêncio funciona como um curinga em nossas vidas; devemos saber utilizá-lo quando precisarmos. Nesse sentido: Provérbios 11:12: “Quem não tem juízo ridiculariza o seu próximo, mas o homem de entendimento fica em silêncio”. 

Em silêncio, nós nos aproximamos dos outros, ouvimos suas necessidades e inquietações. Na profissão de advogada, raramente consegui ficar em silêncio. Pelo contrário, atordoava qualquer ambiente que entrava. Agora, passando pela retidão e o desejo de socorrer os aflitos, busco com o silêncio intuir a solução.

Todas as noites, ao me deitar e ficar em silêncio, consigo me ouvir. Nesse momento, percebo as faltas cometidas. Ao interrogar a consciência, posso discernir quantas vezes fali sem ter a percepção ou se cumpri o dever e, ainda, se alguém tem comigo alguma contenda.

Acredito que, quando nossos pais são idosos, somos testados na paciência. Vovó Alba repete várias vezes as perguntas corriqueiras: Hoje é que dia? A Alessandra virá que dia? O Carlinhos almoçou? Nesses momentos, não posso ficar em silêncio. No início, eu respondia sem paciência, mas hoje sei que ouvir quantas vezes for necessário é a maior demonstração de amor.

A voz de Deus está na consciência, onde se distingue o bem e o mal. O silêncio é um exercício de humildade e sensatez. Quem diz a última palavra nem sempre vence a demanda. Quando em silêncio para ouvir o outro, pratico a comunicação não violenta, equilibrando o diálogo.

Vivemos mais o som do que o silêncio. Vamos ensinar esta geração a silenciar, a ser mais sensível, com o nosso exemplo. O silêncio é o caminho para a paz!

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