O Quinteto, grupo musical que tem como cantor Carlos Giovanny, apresentou no dia 16 de maio, no Teatro Sesi Minas em Uberaba, o “Especial Chico, 80 anos”. Naquele dia, tive a vontade de ouvir uma boa música acompanhada de instrumentos que se comunicavam sinfonicamente, e isso verdadeiramente ocorreu.
Estava com uma amiga muito querida, Aninha, e seu sobrinho Enrico. Começaram com as músicas “Quem Te Viu, Quem Te Vê” e “Roda Viva”, sendo essa uma das minhas preferidas, pois entendo que seus trechos são atuais: “A gente vai contra a corrente/Até não poder resistir/Na volta do barco é que sente/O quanto deixou de cumprir/Faz tempo que a gente cultiva/A mais linda roseira que há/Mas eis que chega a roda-viva/E carrega a roseira pra lá”, Chico Buarque de Holanda, Volume 3, 1967.
Na época em que foi composta, durante a ditadura civil-militar, a música “Roda Viva” expressava a pressão da censura imposta pelo regime ditatorial. Hoje, 2024, 57 anos de existência, a música “Roda Viva” nos reporta para uma sociedade na qual os indivíduos têm pouco ou curto espaço de tempo para tomarem conhecimento sobre as coisas da vida, sobre os fatos cotidianos, como casamentos, mortes, prisões, política, trabalho, escola.
Poucos indivíduos são atraídos pela música popular brasileira, alguns se destacam quando estudam música e adentram o repertório de grandes compositores, como no caso de Chico Buarque de Holanda, mas há jovens de trinta anos que não conhecem a sua discografia.
A música “O Meu Amor” foi interpretada por Marcela Manucci, professora de canto do Conservatório Renato Frateschi: “O meu amor/Tem um jeito manso que é só seu/De me fazer rodeios/De me beijar os seios/Me beijar o ventre/E me deixar em brasa/Desfruta do meu corpo/Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai... Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz/Meu corpo é testemunha/Do bem que ele me faz”, Chico Buarque de Holanda, 1978.
A composição que também impactou foi “O Que Será (Flor da Pele)”: “O que será que será/Que andam suspirando pelas alcovas/Que andam sussurrando em versos e trovas/Que andam combinando no breu das tocas/Que anda nas cabeças, andam nas bocas/Que andam ascendendo velas nos becos/Que estão falando alto pelos botecos/Que gritam nos mercados que com certeza/Está na natureza, será que será/O que não tem certeza, nem nunca terá/o que não tem conserto, nem nunca terá/O que não tem tamanho”, Chico Buarque de Holanda, 1976.
Para se formar um quinteto, precisa conjugar os sons, corresponder-se, ter virtudes como ouvir e corrigir. Não foi um espetáculo instantâneo, com certeza foram meses, quiçá anos estudando a discografia de CHICO BUARQUE para fazer em Uberaba uma apresentação feliz.
As letras das citadas músicas permanecem em meu coração e de quantos outros. Ainda que tenhamos ideias e caminhos diversos do autodidata, temos condição de reconhecer a preciosidade de sua história musical. Enchi de admiração pela potencialidade de cada músico: no violão e voz, Carlos Giovanny; no piano, Rafael Camilo; na bateria, Zó; no contrabaixo, Felipe Colenghi, e no saxofone, Luciene Alves.
A música reveste-se de infinitos conteúdos e formas, desde os mais vulgares até os mais sublimes. Nesse espetáculo, o povo tinha no violão e voz a esperança; no piano, a credibilidade; na bateria, a autenticidade; no contrabaixo, o aprendizado, e no saxofone, a verticalidade. Foram 24 canções interpretadas e acompanhadas pelos instrumentos musicais. Parabéns aos artistas de Uberaba; o Quinteto foi brilhante, merecemos BIS.
Heloisa Helena Valladares RibeiroAdvogada e membro do IBDFAM@heloisaribeiro1704@valladaresribeiro.advogados