Maria recebeu no início de setembro a notícia de que sua amiga estava internada em UTI, entubada e alimentando por sonda. O quadro foi de infecção urinária, pneumonia, parada cardíaca, ficando por aproximadamente quarenta dias hospitalizada. Durante esse período, o quadro clínico se agravou, com infecção, febre, ficando em estado de vigília, quando sofreu a segunda parada cardíaca, vindo a falecer.
A amiga passou por adversidades que a fizeram grande em espírito e verdade. Foram tantas questões familiares, que acredita Maria ter sido a mais sensível de todas quando a mãe da amiga veio a falecer. Realmente somos dependentes de maternagem e muitas vezes não estamos preparados para a orfandade.
Nas poucas vezes que Maria se juntou à amiga e sua mãe, viveram momentos inesquecíveis, com atenção, quitanda, agrado, conversa saudável, sorriso afetuoso. Nada é melhor do que a amizade, porque nela você nada pede, apenas reconhece o valor do outro. Está tudo bem se o outro não esteve presente nas horas mais difíceis, porque os momentos em que esteve foram únicos.
Quando o pai de Maria faleceu, há dezoito anos, havia uma ação revisional de alimentos na cidade de Barretos, São Paulo, cujo prazo devia ser cumprido. Naquela época, tudo era físico, a petição seguiria somente por protocolo integrado em Igarapava. Maria teve que voltar ao escritório e acabar a contestação. Nesse dia, a amiga, juntamente com outro amigo, foi levar a petição para Maria até Igarapava, permitindo assim que pudesse vivenciar o velório.
Muitas pessoas julgam a advocacia sem saber das dificuldades, dos processos, do insucesso, do fracasso, dos valores gastos para a manutenção do escritório, do desânimo, da discriminação, da inconsistência da profissão.
A amiga de Maria era advogada da boa lavra, quando tudo se aprendia no quadro negro, no lápis, na caneta, com caderno, muita frequência às aulas, na escuta coletiva do corpo docente e nas audiências presenciais. A amiga ficou por um curto tempo no escritório de Maria, bons tempos, belos dias. O importante é que o respeito entre profissionais da mesma classe deve ser o comum, e não a exceção; a amiga era assim.
A amiga de Maria deixa-nos o som de sua gargalhada como resposta à vida. A vida da amiga era desafiadora, o que a levou de forma humilde a cumprir o seu mister. A amiga não tinha vergonha de pedir ajuda; assim como Maria, têm muitos anjos da guarda em forma de advogados.
O que importa para nós a partir da maturidade é a paz da consciência e isso a amiga de Maria teve durante a sua existência, que foi por setenta e um janeiros e mais alguns meses, dias. Quanta espiritualidade tinha a amiga, quanta bondade, quanto afeto, quanta força, quanta fé; tudo que combina com o retorno para a verdadeira vida, com progresso, com perdão, com humildade no coração.
O que padece o homem antes de falecer não é comum a todos, mas depende de cada indivíduo. A amiga e advogada Carmem Diná de Melo tem o nome composto, sendo o significado de Carmem jardim de Deus e Diná, em hebraico, está ligado ao conceito de julgamento ou justiça, transmitindo uma carga simbólica de retidão e busca pela equidade. Sabemos que qualquer violência gera um ciclo de agressão e conflito.
Maria acredita que a Vida é infinita e brilha para sempre; que as virtudes da amiga vieram de Deus e agora para Ele retornam, porque a essência de todos é Deus. Assim, Maria se solidariza com os familiares e para a amiga deixa um até breve.
Heloisa Helena Valladares Ribeiro
Advogada e membro do IBDFAM
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