ARTICULISTAS

Oito dezenas e um pouco mais de janeiros

Heloisa Helena
Publicado em 09/11/2024 às 18:20
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Dona Alba Valladares de Vasconcellos Ribeiro fez oitenta e seis anos no dia 9 de novembro e adora conversar. O nosso último encontro foi de aprendizado e reflexão. Para ela “Família é uma corrente, é a união de pessoas, pai, mãe, filhos, parentes”. Ainda que não seja o dia todo, quando está sozinha fica triste; sente melancolia, porque lembra do passado, de seu papai e sua mamãe.

Conversamos muito quanto à vida, a atualidade. Ela não se sente em atraso, “porque cada época tem a sua geração”. Muitas pessoas se esquecem do amanhã e não querem conviver com os mais velhos. Mas o que não entende é o mal-estar que alguns sentem na presença de pessoas idosas. Que muitas vezes sua companhia é o terço, pois, todos os dias reza para seus filhos.

O pensamento da Vovó Alba é que nós devemos falar para as crianças que o papai do céu sabe até o que a gente pensa. É privilégio ter um familiar que nos convoca a apresentar o ser supremo aos pequeninos. Para ela, as crianças são como um presente que o papai do céu ofertou a cada um de nós. Sempre que está na presença de uma criança ela faz questão de enfatizar: - Olá, eu sou Vovó Alba a seu dispor pequenino. Toda criança de colo encanta-se com os seus cabelos brancos como algodão, Vovó canta, como se conhecesse o serzinho de longa data.

A anciã considera os homens criaturas normais, filhos de Deus, iguais às mulheres, sendo o sexo, a diferença. Quanto ao sexo afirma ser coisa normal, faz parte da vida do ser humano; que ocorre para completar o ser. Para ela, embora o homem e a mulher se impliquem, também se complementam.

Sobre aceitar conselhos, diz que “pensa o que vai fazer, se deve ou não, segue normal a vida até chegar no fim”. Diz ser uma pessoa comum, que cumpre seu deverzinho. Às vezes pensa que deveria ter agido diferente com seus filhos, mas a vida da gente tem sempre um porquê.

Sobre trabalho, diz que faz alguma coisa dentro de casa e que adora mudar as coisas de lugar. Foi professora de grupo escolar. Entrou na faculdade por causa de seu marido, pois ele sabia muito sobre as leis, só lhe faltava o diploma. Que “Alaor” não a deixaria sozinha, então, começou o curso e ele logo após iniciou. Seus pais ficaram muito felizes com a sua atitude. Formaram-se e foram advogados. Viveram intensamente a profissão de advogados; enquanto seu marido ficava por trás de uma IBM, ela, elegantemente, adentrava os corredores do Fórum Melo Viana.

Vovó Alba diz que sua bisneta Helena a respeita e a admira, pois quando a menina de dois aninhos a visita, sente a maior alegria do mundo. Hoje, os pais sentam muito pouco para conversar com os filhos. Precisamos lembrar que somos iguais, respeitar a natureza, as árvores, cumprimentar uns aos outros e agradecer a Deus. Ensinar os netos a encarar os avós com mais carinho. Hoje é muito materialismo, as cadeias estão cheias, não se ora mais, acha tudo isso muito triste.

A Idosa sempre tem algo a ofertar, seja uma palavra, um olhar, uma opinião e quando precisa calar, faz silencio não, continua arredia a qualquer ordem, afinal, que o diga nosso finado pai. No atual estágio de sua vida, tem lembranças dias sim e dias não. Nessa ocasião se sentia feliz, porque tinha o que falar, pois sua maior alegria é ter companhia, mas só até a hora que lhe convém, pois ainda se sente muito bem, e conclui: “Não que eu não precise de ninguém, todos nós precisamos, mas tenho Deus, Maria, Jesus, Papai, Chico, Mamãe, Alaor, meus irmãos Maria e Carlos, todos no Além.

Que Deus, com seu infinito amor, nos engrandeça por mais janeiros com sua intensa presença!

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