Mesmo buscando e desejando profundamente a manutenção da vida, o homem repetidamente se coloca nos limites da morte verificados sempre nas situações que envolvem separação – separação amorosa, familiar ou de amizade. Poderíamos pensar que este seria um destino comum? Ou seria algo individual e até mesmo doentio? Se a resposta estiver dentro da primeira pergunta trata-se de reações ou variantes insignificantes da essência humana sem qualquer vinculação com o desviante; caso contrário, poderíamos incluir estes fenômenos no âmbito das tendências maníaco-depressivas, cabendo ainda uma terceira via: situações ao mesmo tempo “doentias” e “normais”, apesar de sua importância antropológica geral, em sua forma pura só aparecerem em sérias crises da existência humana.
“Por mais que se queira, não existe uma energia do desespero. Na verdade, essa expressão significa o paroxismo de uma esperança sem saída. Toda energia consciente – como o amor (e porque é amor!) – baseia-se na esperança.” Pierre Teilhard de Chardin. Se existe uma concordância de sentimentos vividos que pertencem ao plano dos abalos emocionais - luto, desespero, pessimismo, remorso e sensação de vazio; e, num grau mais alarmante, ameaça de suicídio - todos ligados à melancolia; as modalidades de comportamento descritas mostram também indícios de um humor maníac a fuga pela busca de prazeres e pela compulsão à atividade com a repressão e aparente superação da depressão existente.
A melancolia é, num sentido especial, uma doença do Eu. O Eu sadio cria, de um lado, compromissos ótimos entre as exigências da libido (que deseja a união amorosa) e as exigências sociais e, de outro, cria também a busca desesperada pela aniquilação do próprio Eu. A melancolia desaba em cima do próprio Eu pela introjeção total do objeto sobre o sujeito.
Essas reflexões me remetem ao filme “Em algum lugar do passado”, cujo drama se desenrola em torno dos amantes que se encontram e reencontram num tempo que segue seu curso e que, se possibilita a paixão do conhecimento, provoca inevitavelmente a impossibilidade da união amorosa durável, uma vez que cada um é e está num ponto distante na cadeia dos acontecimentos que vêm antes ou depois. A viagem no tempo cria a armadilha da liberdade de poder atravessar os fatos sequenciais da história, para finalizar como única possibilidade real o encontro dos amantes num outro espaço/tempo após a morte, que não obedece ao “marcador das horas” o relógio – objeto enigmático que contém em si sua própria decifraçã ele é possuído pelos dois e, enquanto posse deve satisfazer os desejos dos que o possuem.
(*) Psicóloga e psicanalista