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A anorexia canonizada

Santos e Mártires fazem parte da mitológica história de Paris – uma das capitais mundiais do Cristianismo – dentre eles: Saint Denis e Sainte Geneviève

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 08/02/2012 às 08:49Atualizado em 17/12/2022 às 08:13
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Santos e Mártires fazem parte da mitológica história de Paris – uma das capitais mundiais do Cristianismo – dentre eles: Saint Denis e Sainte Geneviève. O evangelizador Denis, através de sua oratória, pretendia converter os parisienses galo-romanos conhecidos por seus modos pagãos. Depois de algum tempo pregando pelas ruas foi preso, torturado e levado a Montmartre onde seria decapitado. Diz a lenda que Denis apanhou sua cabeça, caminhou por Montmartre entoando orações até cair, por isso é representado em pinturas e estátuas carregando sua própria cabeça.

Genoveva, que se tornaria padroeira de Paris ao lado de Denis, não foi torturada (a não ser por sua persistente anorexia) e não foi morta por sua devoção. Em vez disso, “era uma talentosa manipuladora de pessoas e situações, bem versada na magia negra da negociação diplomática”, segundo Hussey. Intimidava oponentes políticos inferiores e ainda se encobria no misticismo de ser uma mulher sagrada. Uma das mais famosas representações de Genoveva é Sainte Geneviève gardant ses moutons, uma pintura anônima do Século XVI que agora está exposta no Musée Carnavalet. Aqui Genoveva é representada com um rosto meigo, maternal e em formas robustas, uma imagem um tanto contrária ao registro histórico de que ela era uma jovem que passava fome de propósito e era extremamente nervosa.

Genoveva nasceu em uma família galo-romana aristocrata em 420, em Nanterre, fora de Paris. As mulheres eram nessa época excluídas de todas as estruturas de poder, exceto a religião. Ela recebeu seu véu do bispo de Paris aos quinze anos, e foi sua reputação mística que a impulsionou na juventude, seguindo os passos de seu pai, a um papel-chave como conselheira das autoridades no comando da cidade.

Numa época de muito medo de invasões bárbaras, fome e sofrimento Genoveva se submeteu à fome comendo apenas cevada e feijão duas vezes por semana, o que lhe deu um semblante luminoso e, quando a invasão estava prestes a acontecer ela, uma jovem virgem, caminhou calmamente pelas ruas da Ile de la Cite, o pantanoso terreno ao redor do rio e por palácios vazios dizendo que Deus havia dito a ela que Paris seria preservada. A decisão repentina do invasor Átila de dirigir sua atenção para o sul, aos lugares mais ricos e prestigiosos e que poderiam ser mais facilmente conquistados impressionou a todos que consideraram um verdadeiro milagre de uma menina faminta, frágil e religiosa salvando uma cidade da invasão bárbara. Nas mais proeminentes igrejas de Paris, Genoveva e Denis foram saudados como salvadores por padres ansiosos e temerosos frente às inúmeras possibilidades de saques e destruição.

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