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A fragilidade é branca!

Sempre que participamos de evento em torno de um tema e uma pessoa, como por exemplo: uma ideia...

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 21/06/2017 às 20:50Atualizado em 16/12/2022 às 12:32
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Sempre que participamos de evento em torno de um tema e uma pessoa, como por exempl uma ideia, um livro, uma pesquisa, saímos fortalecidos, desafiados e motivados ao trabalho numa posição de  abertura aos novos conhecimentos e revisões. Quando me encontro nesta situação, represento-a, internamente, com a imagem de pessoas em torno do fogo que aquece com seu calor, ilumina com sua luz e fortalece com o sentimento de pertença. Lembro-me também dos povos primitivos que se preparavam para as guerras com danças em torno da fogueira – depois do ritual que incluía ritmo, movimento e fogo sentiam-se prontos para a luta.

Recentemente vivi uma experiência inesquecível: conheci a neve em todas as suas etapas: um início chuvoso, um frio intenso, os primeiros flocos de neve e, por fim a nevasca. Quando a neve caiu, decidimos imediatamente retornar ao Cerro Catedral, em Bariloche, onde inicialmente não pudemos subir, pois os serviços de transporte estavam parados. O desafio da subida e do caminhar na neve imaginado originalmente como perigoso, devido às constantes advertências dos instrutores, fez com que nossos primeiros passos em direção ao almejado passeio fossem vividos sob forte emoção – o coração batia forte e acelerado.

No entanto, após a firme decisão, seguimos em frente focados apenas em alcançar nosso objetivo, realizando também nossos sonhos. Esperamos pelo bondinho na companhia de tantos brasileiros que houve, naquele lugar, uma inversã os brasileiros eram maioria absoluta e os argentinos minoria irrelevante. Aliás, no mês de julho, Bariloche se transforma em Brasiloche – só tem brasileiros. Subimos até o pico da montanha e saímos na neve onde muitos já brincavam com arremesso de bolas de neve ou descendo de esquibunda. Vi tantos tombos homéricos que desisti da ideia de praticá-lo.

Retornamos pelo trenzinho e pegamos a passarela de descida. Neste momento pude apreciar verdadeiramente a paisagem – a neve cobrindo os pinheiros e outras árvores. Fiquei extasiada com a maravilha! O que era o forte verde da mata, agora estava totalmente branco. Percebi então que o branco não é apenas vazio e frio, ele é, antes de qualquer coisa, FRÁGIL! Os galhos se curvam e a neve espalhada por toda a superfície do arbusto o torna leve, fino e frágil. Esta sensação do frágil comove e identifica. A imperiosa paixão se liga à compaixão num enlace destinado à eternidade. Nem sei quantas fotos tirei!

Uma lembrança se impôs: no Instituto Inhotim vimos uma sala onde o artista montou um enorme trator marrom, todo sujo de barro cuja retroescavadeira reboca uma frágil árvore totalmente branca, com suas raízes expostas além de pás, enxadas e picaretas também brancas a ela fixadas. O impacto é forte e a mensagem traduzida imediatamente: a força destrutiva do homem com suas máquinas poderosas contra a FRÁGIL natureza.  

(*) psicóloga e psicanalista

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