Para muitas gerações, o estudo da História do Brasil se iniciava com o Descobrimento, em 1500, seguido pela divisão do litoral nas capitanias hereditárias. Conteúdo lacunar e insatisfatório, que levantava mais questões do que esclarecia todo este tempo anterior e imediato à colonização portuguesa. Atualmente, temos vários autores e títulos que preenchem as lacunas deixadas pela oficialidade do conhecimento, mostrando a vida guerreira dos vários povos habitantes deste imenso continente que respondem nossas questões sobre origem e consequente explicação das consequências ainda presentes.
Serafim Leite S.I., Eduardo Bueno, Paulo Rezzutti, Claudia Tomaz Witte, Auguste de Saint-Hilaire e Jean Baptiste Debret são alguns que embasam este texto, através das cenas relatadas e comprovadas das experiências dos vários membros da Companhia de Jesus no Brasil, presentes no território brasileiro desde 1543, e outros aventureiros portugueses, espanhóis, franceses, holandeses, ingleses e alemães, em busca das riquezas do Novo Mundo.
Seguindo indicação do historiador Eduardo Bueno, iniciei estudo interessante e fecundo da obra de Hans Staden – “Duas Viagens ao Brasil – séc. XVI”: o primeiro autor de obra impressa sobre a região de São Vicente, deixando preciosas indicações sobre a terra e a gente brasileira. Marujo e arcabuzeiro alemão da Expedição do Almirante Sanabria, Hans Staden aportou em meados de 1550 na capitania vicentina, sendo esta a segunda viagem ao Brasil, fazendo parte da armada espanhola e uma primeira de expedição anterior portuguesa. Nesta segunda viagem, caiu prisioneiro dos Tupinambás, durante nove meses e meio, em perigo constante de ser por eles morto e devorado.
O interesse pelo texto se inicia pelas citações de nomes conhecidos hoje: Itanhaém, Bertioga, Santo Amaro. Boiçucanga, Ubatuba, São Sebastião, entre outros. O reconhecimento das citações traz os acontecimentos de 1555 para a atualidade, pondo em retrospectiva a origem dos nossos tempos. Assim somos transportados para o nascimento do Brasil para a vida e costumes daqueles que nos precederam e que explicam com sua história muitos costumes ainda vigentes. Principalmente alimentares, como a mandioca e o milho ou a farofa de içá.
Estando em Bertioga, no forte de São Tiago, e posteriormente Santo Antonio, onde tinha um escravo – selvagem da tribo carijó que o ajudava nas tarefas do lugar –, mandou-o caçar e colher alimentos, que no outro dia buscaria na floresta. Neste amanhecer, saiu para à busca e foi apanhado em emboscada pela tribo tupinambás, que imediatamente tiram-lhe a roupa até que ele fique totalmente nu, amarram-lhe corda no pescoço, nas mãos e nos pés e levam-no assim aos outros do grupo, que estavam na praia, perto das canoas, e depois para a aldeia.
Ilcea Borba Marquez
Psicóloga e psicanalista
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