O ser humano habita entre a analgesia e a dor crônica. (Berlinck, M.) Entende-se por analgesia
O ser humano habita entre a analgesia e a dor crônica. (Berlinck, M.) Entende-se por analgesia a ausência da sensação de dor e por dor crônica essa sensação sempre presente no corpo mesmo sem a referida lesão ou suporte físico/psíquico. Mesmo podendo dizer que a humanidade é uma espécie dolorida, comprovamos também que a dor é desconhecida e dificilmente conceitualizada: apesar de ser geral e irrestrita, a dor é, em grande parte, um persistente enigma.
A dor possui várias denominações: artrite, artrose, enxaqueca, fibromialgia, gota, dor muscular crônica e reumatismo, sendo todas obscuras e enigmáticas. A dor nos músculos e nos tecidos fibrosos (ligamentos e tendões) espalha-se por todo o corpo, tendo grande proximidade com a depressão e a angústia. Sabemos que o tratamento da depressão faz, muitas vezes, desaparecer a dor crônica e aumenta a resistência do organismo a essa manifestação.
Não sentir dor coloca o humano num radical desamparo, tornando-o indefeso frente aos perigos ameaçadores à própria vida, já que a dor sinaliza os estímulos potencialmente lesivos do presente, contidos no aqui e agora. Podemos dizer que a dor é uma defesa contra as ameaças lesivas ou lesões vindas do meio externo, nele incluindo outros organismos. A dor protege ao provocar uma tensão e ações que procuram evitar esses perigos. No entanto, convém esclarecer que a própria defesa contra a dor é muitas vezes dolorida.
Passamos assim a pensar que a humanidade necessita da dor tal como necessita da depressão e da angústia pelo caráter que tem de sinalizar perigos e ameaças presentes no tempo e no espaço. A dor determina os limites de nossas relações com o ambiente: contém em si, de maneira intrínseca, a noção de uma força estranha que atua em nós e que nos vemos obrigados a suportar. Neste sentido, a dor é uma resposta a uma fratura nos limites do organismo onde incluímos o psíquico e nos remete à nossa finitude.
A dor pode ser definida como experiência desagradável ou penosa, proveniente de lesão, contusão ou estado anômalo do organismo ou de parte dele. No entanto, pelas implicações com outros termos – sofrimento, aflição, pena, mágoa, tristeza, angústia, depressão – e, em especial, pela reconhecida dor moral, percebe-se uma extensão para além do meramente fisiológico. Essas referências fisiológicas são importantes porque demonstram que o corpo humano é uma superfície sensível, que busca primariamente a proteção contra estímulos lesivos, vindos tanto do ambiente quanto de dentro.
(*) Psicóloga e psicanalista