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A ilusão da Ciência (continuação)

Para os mestres, a transmissão do saber se dá numa relação a dois, onde ele se coloca no lugar do Pai instrutor/formador e o discípulo no lugar de filho aprendiz

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 06/01/2010 às 20:56Atualizado em 20/12/2022 às 08:42
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Para os mestres, a transmissão do saber se dá numa relação a dois, onde ele se coloca no lugar do Pai instrutor/formador e o discípulo no lugar de filho aprendiz; para eles, só assim é possível guiar cada um, segundo sua natureza e as capacidades do seu intelecto, e quando ocorre um aumento exagerado no número de aprendizes, bem como a intermediação dos escritos, houve na verdade um distanciamento entre os protagonistas deste processo de formação intelectual e aprendizagem e, ainda, uma substituição dos mestres pelos livros. A consequência funesta é que assim se criam “órfãos do espírito.” A sucessão de gerações de órfãos do espírito gerará falsos saberes, bem como cientistas da ilusão! Este modelo se baseia na crença de que o verdadeiro conhecimento só acontece na interação de dois, no enfrentamento ao outro, que por sua oposição revela as verdades tanto de um quanto do outro; somente a leitura não possibilita o acesso ao verdadeiro conhecimento – aquele capaz de transformar.

Como valorizar, então, a intermediação dos computadores/internet no processo educativo, como vemos na atualidade? E o ensino a distância? Em que categoria se encaixa?

Uma análise da contemporaneidade serve como indicador das possíveis consequências de todo esse processo informativo que, permitindo a intermediação de satélites, aparelhos de telecomunicação, videoconferências ou outros, dá nova feição ao professor, como também ao aluno. Não tenho muita certeza se ainda podemos nominar o instrutor como “professor”, mas podemos afirmar, tranquilamente, que não se encaixa no modelo do “mestre”.

Toda a vez que falamos, hoje, sobre ensino ou escolas, alguns temas se impõem: violência, descaso, despreparo e até mesmo ignorância. Colocar-se à frente de uma sala de adolescentes é também sujeitar-se aos atos e agressões verbais. E as novidades são assustadoras: para os alunos, os professores são seus empregados, já que os pagantes são seus próprios pais. Portanto, pervertendo a lógica, são eles que devem deter o poder em sala, e não o professor! Esses alunos podem até demonstrar a aquisição de alguma habilidade ou informação decorrente do tempo que permanecem como estudantes, mas suas próprias pessoas, seus valores e ideais estão longe de representar o antigo ideal dos mestres: propor-se como modelo de formação dos novos seres como intermediação para a “sabedoria humana”.

(*) psicóloga e psicanalista

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