O fim da desigualdade das oportunidades sociais entre homens e mulheres é um desejo bastante antigo, mas a sinceridade dos que - homens e às vezes mulheres - expressam tais votos continua incerta. Fourier, ao que parece, foi o inventor da palavra feminismo, e os saint-simonianos criaram em 1832 a primeira revista feminista, La Femme Libre. Mas, enquanto nos Estados Unidos a emancipação das mulheres foi comparada à libertação dos escravos, na França, nas classes populares, homens e mulheres, todos membros do exército de reserva do capital, disputavam empregos cuja oferta foi, durante décadas, inferior à demanda.
Isso explica o acesso muito gradual das mulheres a posições marcadas pelo selo da respeitabilidade social (poder de decisão e capital cultural). Foi apenas depois da Segunda Guerra Mundial que as mulheres ativas passaram finalmente a ocupar posições sociais até então monopolizadas pelos homens. E elas ainda são encaradas de um ponto de vista sexista, como mostra a satisfação com que os jornalistas se detêm sobre o físico das personalidades femininas. Em três publicações de orientações políticas diversas, as matérias sobre três mulheres políticas começam descrevendo seus corpos e suas vidas familiares. Florence d’Harcourt é alta, magra, loira e antes de tudo mãe de família (Jours de France, dezembro de 1973). Anne-Marie Dupuy, chefe (e não chefa) de gabinete do secretário-geral da Presidência da República e que acaba de integrar o Conselho de Estado no exterior, gosta de barcos e de esqui. Sorridente, com os olhos cor de avelã, pele clara, cabelos castanhos sobriamente enrolados, sempre vestida com tailleurs clássicos ou vestidos lisos de cores discretas (France-Soir, 11 de janeiro de 1974). Marie-France Garraud emana uma amizade calorosa (...). Mas seu pescoço merece atenção. E nele, ágil e forte, que se trai a valquiria guerreira, dura no combate. Quem é esta figura elegante? Uma mulher do interior ambiciosa, inteligente e hábil, muito simplesmente. Ela tem dois filhos, um marido advogado no Tribunal de recursos e, como a maioria dos adeptos de Pompidou, uma profunda vontade de poder (Le Nouvel Observateur, 24 de dezembro de 1973).
A ascensão da mulher até o topo social só pode colocar em questão as relações conjugais. À incontestável inferioridade do marido em termos de longevidade e a suas plausíveis fraquezas no campo sexual vêm possivelmente se somar desempenhos contrários em sua estratégia de carreira. Os estudos de Andreé Michel mostram que as mulheres ativas com nível de instrução mais elevado são as que se declaram as menos satisfeitas com seus casamentos e que sua autonomia - muito maior em relação ao marido - requer uma nova definição da vida conjugal, uma nova divisão das funções e dos papeis, não só dentro, como também fora da família. E em todos os grupos sociais o desemprego obriga o casal a elaborar estratégias de reconversão. O desemprego do marido, nos casos em que a mulher se mantém empregada, inverte os termos da aliança econômica. Ha algumas décadas, quando uma mulher tinha cursado a universidade, não raro ela renunciava a qualquer atividade profissional na hora de se casar. Ela utilizava seu capital cultural para ajudar o marido em sua carreira e para educar os filhos. Uma pesquisa sobre os estudantes de medicina na região de Marselha (que remonta aos anos 70) mostra que frequentemente a estudante abandonava seus estudos ao se casar com um estudante da mesma especialidade. Ou se limitava a terminar o curso sem prestar concurso, sem fazer especialização, eventualmente se contentando com um posto de médico assalariado, na época pouco prestigiado. Hoje as coisas mudaram: podem surgir tensões - quando não uma ruptura - quando a mulher tem um desempenho universitário superior ao do marido. Assim nasce no casal uma nova forma de ciúme, pois a permanência das ideias convencionais ameaça tornar insuportável para o marido um êxito profissional da mulher superior ao seu. Essa rivalidade na carreira, ainda não estudada - é recente demais - coloca as relações com os filhos em novos termos: como eles perceberão os papéis da mãe, inspetora das Finanças, e do pai, administrador civil na Secretaria de Estado do Tempo Livre? Quanto à inveja entre mulheres, tradicionalmente fundada em rivalidades físicas ou de prendas domésticas, não irá se basear também em novas comparações, como itinerários profissionais? Já é assim.
(*) Psicóloga / Psicanalista