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A magia do recomeço

Figas, amuletos, cores poderosas - branco, vermelho, amarelo – sortilégios, promessas e esperanças... assim percebe-se o fim de um ano;

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 14:56
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Figas, amuletos, cores poderosas - branco, vermelho, amarelo – sortilégios, promessas e esperanças... assim percebe-se o fim de um ano; assim recebe-se o início de um outro ano.

Numa terra reconhecidamente mestiça é inegável certa porosidade entre tradições africanas, indígenas e européias que distanciam a população em relação aos ritos oficiais da Igreja acrescida a uma tão vasta e dispersa colônia continental que assim formou um caldo histórico e sociológico único, fator de sustentabilidade de um imaginário supersticioso.

Na Bahia, berço inconteste do candomblé, os vários banhos inscrevem-se no calendário das purificações rejuvenescedoras e contagiantes. Entre os mais afamados encontram-se os banhos-de-cheiro, banhos-do-mato, banhos-de-ervas ou as técnicas de ramalhete - todos recursos de defesa mágica, com feição terapêutica contra a má sorte, reincidência de acasos infelizes, negócios falhados, assuntos de amor impossível, sonhos econômicos, que povoavam e povoam os recantos de um Brasil nem tão antigo assim.

Nas festas joaninas havia arruda, alecrim, manjericão e outra infinidade de ervas aromáticas. Havia os banhos sanjoanenses, de origem portuguesa, preparados contra mau-olhado, azar, moléstias de pele, - porque têm o condão de conservar a felicidade, afastar o caiporismo, destruir o enguiço ou readquirir os favores da sorte.

Mario de Andrade nos informa que em Portugal é pecado urinar n`água, só se livrando da culpa quem diz, ao mesmo temp Morra o diabo, viva o menino Jesus. Na Alemanha explicam a proibição como delito contra o céu que se espelha nas águas. Ainda no Brasil amazônico, as mães proíbem os filhos de urinar n`água porque o terrível do peixinho candiru sobe por ela e entra na bexiga do mijador. Já Otoniel Mota nos diz que o povo explica a proibição de urinar na água afirmando que a água é nossa mãe e quem nela urina vai pagar no inferno esse desrespeito. É uma tradição linda brasileira a que proíbe defecar a beira-rio, porque jamais nunca as águas se dignarão a atingir esse lugar para sempre abjeto.

Mágica e contagiosa também é a água da lavagem da camisa de uma mulher, dada a beber a um rapaz, que o faz deixar outros amores e apaixonar-se pela dona da camisa. Mesmo sendo objeto de desconfiança e até de zombaria, as superstições seguem e insistem. Melhor crer nelas. Nem que seja por superstição.

(*) psicóloga e psicanalista

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