ARTICULISTAS

A moralidade e os prazeres sexuais

Para a escritora Anais Nin: A linguagem do sexo

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 16/10/2013 às 20:35Atualizado em 19/12/2022 às 10:38
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Para a escritora Anais Nin: “A linguagem do sexo ainda está por ser inventada. A linguagem dos sentidos ainda está para ser explorada.” (1941) Verdade inconteste apesar dos setenta e dois anos da sua criação! Fica clara a dificuldade de todos quando se trata das questões sexuais e, mais ainda quando se tenta juntar sexo e feminino!

Fenômeno editorial, sucesso incontestável de venda para o público feminino, a trilogia Cinquenta Tons coloca em pauta para discussão todas as questões que envolvam o sexo, a moralidade, o prazer, a ética e os relacionamentos, mesmo que criticado nos meios acadêmicos onde recebeu os títulos: “pornô para mamães” ou ainda “cinderela tarada”. Sua vendagem extraordinária surpreendeu até mesmo a escritora que começou a escrevê-lo como uma brincadeira postada semanalmente na internet, e publicada em edição limitada o que elevava os preços por exemplar disputado. Essa aceitação despertou o interesse de editoras para um investimento de alcance internacional.

Dentre os poucos autores que se dedicaram ao tema, retomamos a fala de São Francisco de Sales quando exortava à virtude conjugal propondo o modelo do elefante e dos belos costumes que demonstrava com sua esposa. O elefante “não passa de um grande animal, entretanto, é o mais digno que vive sobre a terra e que possui mais senso... Ele nunca troca de fêmea, e ama ternamente aquela que escolheu e com a qual, no entanto, só acasala a cada três anos, e somente por cinco dias, e tão secretamente que jamais alguém o viu nesse at entretanto, ele é visto no sexto dia, quando, antes de qualquer coisa, vai diretamente ao rio no qual lava todo o seu corpo, não querendo de modo algum retornar ao seu bando sem antes purificar-se. Não temos aí belas e honestas disposições?”

O cristianismo trata como herói virtuoso aquele que seja capaz de se desviar do prazer visto como tentação uma vez que esta renúncia lhe daria acesso a uma experiência espiritual da verdade e do amor impossibilitada pela atividade sexual. Também são conhecidas, na Antiguidade pagã, as figuras de atletas da temperança suficientemente senhores de si a ponto de renunciar ao prazer sexual. Em suma nos textos filosóficos clássicos sobre a sexualidade não percebemos uma liberdade suficiente para tratar a verdade do tema, pois  em cada um estão presentes as bases da corrente de pensamento a que pertencem: a moral, a ética, os bons costumes. Não podemos então nos surpreender que a despeito de décadas de feminismo, ser subjugada e dominada por um macho alfa ainda seja a suprema fantasia feminina. Só nos textos dos filósofos da contemporaneidade como Michel Foucault ou Levi-Strauss encontraremos subsídios para uma discussão livre de preconceitos onde a sexualidade não seja tratada como um bem ou um mal porque parte da natureza, inferior porque também praticada pelos animais.

(*) Psicóloga e psicanalista

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