Entramos no período político-eleitoral e pela mídia recebemos mensagens que nos convocam...
Entramos no período político-eleitoral e pela mídia recebemos mensagens que nos convocam a participar efetivamente neste tempo de forma indireta ou direta, seja cumprindo com o dever cívico de votar ou, mais ainda, colocar-se na situação de candidato. Uma publicidade neste sentido chama a atençã um coral onde vemos uma metade constituída de homens e a outra metade de mulheres entoa um som harmonioso onde reconhecemos a sintonia dos tons graves masculinos junto aos agudos femininos; em seguida, outra formação do coral agora predominando a representação masculina e a feminina bem diminuída. A mensagem é: se somos metade harmoniosa de homens e mulheres, por que na política esta diferença brutal entre homens e mulheres participantes do poder.
Sabemos que as relações desiguais se baseiam na desigualdade profunda existente nas relações entre os homens e as mulheres. A autoridade política ou social, até o presente momento, pertence aos homens e são poucas as mulheres que se aventuram no exercício do poder político-social. Por quê? Na maioria das sociedades, tanto as mais desenvolvidas quanto as mais primitivas, as de filiação patrilinear ou matrilinear, o domínio prevalente da dominação masculina se repete. Várias teorias tentam explicar o fenômen na divisão de tarefas, o homem ficou com a caça e a mulher com a agricultura, um saiu do espaço protegido da casa para a conquista do espaço social e o outro permaneceu no familiar junto com as crianças e os velhos. Assim, houve uma diferença de especializações técnicas e produção de tipos diversos de alimentação com geração simbólica da sociedade pelos homens através das mulheres. Se os dados são importantes, no entanto, não nos satisfazem plenamente. Vejamos outras explicações:
A biologia atual, a partir de pesquisas recentes de anatomofisiologia, embriologia e endocrinologia, nos revela uma mudança conceitual fundamental: os seres humanos, tanto masculinos quanto femininos, pertencem inicialmente ao sexo feminino. Estas descobertas levam-nos à hipótese de que todas as sociedades a pressentiram daí todas as interdições formuladas para limitar, canalizar ou impedir a sexualidade feminina sempre ameaçadora e impetuosa. Desde o início, a mulher se localizaria do lado do gozo, por uma sexualidade precoce construindo-se em torno de um só orifício, órgão simultaneamente digestivo e vaginal, que tende a, indefinidamente, absorver, apoderar-se e devorar. Caso esta sexualidade se mantenha, cria obstáculos à castração e à aceitação da lei, uma vez que a angústia da castração é que lhe abre o caminho ao Édipo, diferentemente da experiência masculina, onde o medo da castração significa a saída do Édipo.
(*) Psicóloga e psicanalista