O carnaval como festa barroca é o espaço preferido
O carnaval como festa barroca é o espaço preferido das mulheres frutas para a exibição dos seus dotes superdesenvolvidos, quer dizer – uma festa barroca pelos seus superlativos se torna o lugar apropriado para a exposição de todos os outros superlativos – confirmando a hipótese do gosto barroco latino brasileiro capaz de criar e sustentar este movimento de beleza, apesar do relativismo das escolhas destas mulheres como ícones de beleza feminina. Grande parte dos homens, quando consultados, diverge totalmente: para eles, estes corpos com musculatura superdesenvolvida se aproximam em demasia do corpo masculino e em algumas situações criam imagens estranhas e até mesmo desconcertantes.
Em consonância com o exposto, o desenvolvimento da medicina estética com suas novas técnicas cirúrgicas – lipoaspiração, lipoescultura e outras –, bem como produtos – botox, silicone, laser –, oportunizou a concretização efetiva de um corpo tido como ideal, agora tornando possível a todas as mulheres seios fartos, ausência de gorduras, hipertrofia da musculatura ou massa magra. O corpo feminino ganha assim novas formas, igualando todas as mulheres e todas as idades. A partir da adolescência a jovem dá início a este processo de construção física, cujo resultado final é uma aproximação dupla: do feminino com o masculino e das mulheres entre si sem uma diferenciação individual, social ou etária.
Comprovando este aspecto da atual revolução sexual, recentemente um dos bares locais, de grande frequência dos jovens, lançou a “Quinta Sexy on the city”: como a quarta é noite de futebol, com maciça presença masculina, a quinta seria a noite feminina: como atrativo haveria promoção no valor do vinho e também recepcionistas masculinos em apresentação especial: colete vermelho bem decotado, sem camisa e gravata borboleta da mesma cor. A roupa usada favorecia a visão do tronco superior e as luzes salientavam formas femininas desta mesma parte: tanto o homem quanto a mulher buscam uma aproximação física nas musculações e malhações.
Esta barroca revolução sexual aparece com as seguintes características: impressão de um fator de irrealidade, de delírio, de vertigem, de desequilíbrio – objetivos da arte barroca ao criar ilusões no espaço arquitetônico, tais como escadarias que não existem, reentrâncias de vazios e cheios que não existem, mas que a pintura finge nos muros e tetos das igrejas. A ópera ao juntar ou sintetizar várias expressões artísticas: a poesia, a música, o teatro, a pintura, o vestuário, enfim, os elementos arquitetônicos do cenário é uma síntese das artes de caráter também barroco. Se na arte renascentista percebemos a expressão da razão e racionalidade humana, na arte barroca percebemos a expressão do efêmero, do eventual – valores encontrados na cultura atual onde nada é para sempre, e onde a ilusão busca criar uma nova fantasia, a fantasia possível dentro de um espaço real que não se pode negar, nem, tranquilamente, assimilar.
(*) Psicóloga e psicanalista