ARTICULISTAS

Abriu-se a cortina de ferro!

Durante recente visita ao Centro Europeu, conhecemos in loco as marcas físicas

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 08/06/2011 às 21:28Atualizado em 19/12/2022 às 23:54
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Durante recente visita ao Centro Europeu, conhecemos in loco as marcas físicas e psíquicas da ocupação comunista decorrentes do “Butim” da II Guerra Mundial em 1945, quando Rússia, Inglaterra e Estados Unidos da América dividiram entre si os territórios conquistados/libertados.

Na paisagem panorâmica de belas Velhas Cidades há discrepantes imagens que transformam em vizinhos os prédios Art Noveau e aqueles que seguem a arquitetura padronizada dos caixotões cinza, retos, pré-moldados, sem nenhuma decoração ou diferenciação. São muitas também as mansões totalmente depredadas e tornadas “taperas” pelo uso comunitário sem manutenção e reparos – desde uma simples pintura de fachada ou troca de vidros quebrados ou ainda assistência técnica aos anteriores jardins decorativos!

Nos relatos pessoais daqueles que viveram estes tempos de ocupação, muitas estórias plenas de ressentimentos e mágoas: a decepção ao se confrontarem com a verdade que o discurso libertador ocultava, pois, atrás do “Estamos aqui para livrá-los do Imperialismo Capitalista”, havia apenas o desejo de esgotar vicariamente todas as riquezas da região para o poder, honra e glória do Partido Comunista Russo, bem como a vitória na famosa Guerra Fria que mantinha então com os Estados Unidos da América; revolta ao verem que haviam perdido todos os seus direitos humanos individuais em função da servidão escravizante exigida pelos ocupantes; raiva ao constatarem que a tão decantada igualdade de todos perante o estado inflado apenas se referia a eles porque “alguns eram sempre mais iguais do que outros”; infantilizados ao serem obrigados a pedir autorização para tudo que queriam ou precisavam – de uma intervenção cirúrgica importante ao final de semana de lazer numa cidade vizinha visitando parentes, mesmo dentro da própria região comunista; lembranças de depressões recorrentes ao serem obrigados a viver sempre na monocromia angustiante do cinza dos prédios, casas, roupas e tudo o mais; comodismo mortífero advindo do inexistente projeto de vida própria ou desafios autoeleitos, e o sentimento ainda mais forte de raiva ao perceberem que haviam perdido a pátria que lhes conferia identidade própria para se transformarem nos apátricos subsumidos numa forma de ser e estar russo, fruto da imposição dos ocupantes.

(*) psicóloga e psicanalista

 

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