ARTICULISTAS

Absurdos maternos

Em tempos virtuais, internautas, digitais e orkutianos vivemos, sem dúvida nenhuma, uma evolução revolucionária prenhe de conseqüências!

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 04:17
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Em tempos virtuais, internautas, digitais e orkutianos vivemos, sem dúvida nenhuma, uma evolução revolucionária prenhe de consequências! Algumas profissões sumiram por desuso, outras nasceram por modernidade; o sentido de temporalidade sofreu alterações profundas - atualmente o tempo gasto em consultas, pesquisas e confecção de documentos, que antes exigiriam presença física do solicitante e/ou a intermediação dos serviços do Correio, hoje a internet permite o recebimento esperado em apenas alguns segundos, ou seja, o tempo necessário para acessar a página do órgão, digitar as informações e receber de imediato o documento pedido.

No entanto, precisamos deixar de lado reflexões baratas para compreender a exata dimensão do mundo digital. Uma das falácias deste momento cultural é a idéia altamente difundida de que as crianças de agora são mais inteligentes e que a utilização frequente e correta das possibilidades do mundo virtual aumentam suas capacidades nascentes de produção e atualização potencial. Como nos alerta Luiz Felipe Ponde (FSP 8/12/08), saber navegar na internet nada tem a ver com conhecimento significativo, e se a tecnologia pode garantir ganho profissional nada tem a ver com formação, uma vez que profissão e formação são coisas distintas. Para esta o essencial ainda é a relação professor-aluno naquilo que ela tem de mais ancestral: “a experiência (mais) formada em contato com a experiência em formação”.

Ainda é importantíssimo lembrar os riscos do anonimato digital. Tanto eu quanto vocês nos surpreendemos com o julgamento de uma adolescente e sua mãe comentado pela revista Veja. De maneira altamente inconsequente mãe e filha se uniram para punir outra adolescente, ré presumida como responsável por difamaçã a mãe tomando as dores da filha mal-falada criou um personagem adolescente, bonitão e solitário que começou a se comunicar com a jovem inocente e crédula. Conhecedora dos segredos da alma feminina logo conquistou a adolescente, até que um dia enviou-lhe comunicado sintético e arrasador: “o mundo seria melhor sem você!” Pra ela, então, só restava uma alternativa: sair de uma vez por todas deste mundo. O pensamento foi imediatamente transformado em ato e a adolescente arrasada enforcou-se com um cinto no closet de seu quarto - uma atitude trágica e desesperada, revelando no horror da cena do enforcamento o próprio horror com a violência e os maus-tratos do mundo forte sobre aqueles que o temem.

(*) psicóloga e psicanalista

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