“O Príncipe Encantado desperta a Bela Adormecida e a Princesa distante faz sonhar os jovens!” Estas representações encontram-se no arcabouço personalítico dos indivíduos da nossa civilização. O príncipe e a princesa são a idealização do homem e da mulher, no sentido da beleza, do amor e da juventude, como também do heroísmo. O príncipe simboliza a promessa de um poder supremo. Como ainda não é o Rei, ele exprime as virtudes régias no estado da adolescência, ainda não dominadas nem exercidas. Ele faz mais o gênero do herói do que do sábio.
Neste dia 29 próximo o mundo poderá acompanhar mais um casamento real. O Príncipe William – da casa de Windsor (Inglaterra) – e a atual Princesa Kate farão suas promessas de amor e fidelidade frente a todos que agraciados pelo desenvolvimento tecnológico participarão, concomitantemente, do tão divulgado e esperado evento. Se é um caso midiático e comercial tem, no entanto, grande público, resultado da força inconteste de uma ilusão. Através deles os assistentes viverão a euforia própria das situações que operam uma fuga da pressionante e impressionante realidade que a todos oprime e reduz, pois comporta um elemento de transgressão inconsciente ao dia-a-dia real, ao pensado e compartilhado. Este matrimônio oferece a ilusão de uma neutralidade provisória, criando a vertigem de um espaço/tempo fora do social, porque inconsciente e pleno de fantasias reparadoras assim como o sonho o é para cada um dos indivíduos. Suscita o júbilo particular de uma falha instalada na representação do sujeito quando o sonho e o desejo tomam lugar na vigília consciente.
Enquanto isso, aqui no Brasil e em Uberaba, o JM de domingo próximo passado nos impressiona com a notícia do extermínio de uma família inteira por parte daquele que deveria protegê-la e prover. O piauiense José Euclides descarrega um pente de balas em sua mulher Aldenice, em seguida mata sua filha Lívia de apenas 6 anos e atira também na amiga da família, que tenta proteger a criança fugindo para fora da casa quando ele chega. Depois comete suicídio e numa carta deixa instruções para seu enterro. Mais um caso do violento sentimento de posse de um homem sobre a mulher que só deveria existir para ser consumida!
No conto de fadas – A bela e a Fera – o príncipe simboliza a metamorfose de um eu inferior em um eu superior pela força do amor. A qualidade do príncipe é a recompensa por um amor total, ou seja, totalmente generoso. Felizes são aqueles que podem se identificar com os grandes feitos amorosos e apaixonados dos principescos heróis.
(*) psicóloga e psicanalista