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Alma Brasileira

O sentimento recorrente de menos valia brasileiro tem raízes profundas

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/06/2015 às 09:27Atualizado em 16/12/2022 às 23:53
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O sentimento recorrente de menos valia brasileiro tem raízes profundas, reconhecemos sua existência nos primeiros registros históricos como pinturas e textos que chegaram até nos, remontando aos anos iniciais do processo de colonização portuguesa das terras recém-descobertas. Sabemos que Portugal, desafiado a povoar as novas e extensas terras, se viu impossibilitado de fazê-lo pelo simples fato de que, mesmo trazendo todos os portugueses para cá, pouco representaria em termos de povoamento real e posse efetiva da colônia americana portuguesa. Os colonizadores também queriam um povo escravo, vassalo e submisso que jamais se colocaria num mesmo nível dos colonizadores e nunca questionaria sua condição inferior. A política portuguesa para sua exuberante e extensa colônia era de impedir o desenvolvimento dos nativos ou dos primeiros colonos, mantendo talvez para sempre o regime extrativ tirar toda a riqueza sem a preocupação de devolver algum benefício em termos de formação e informação do povo e, ainda, impor pesadas taxas e regulamentos restritivos que obrigavam o envio à metrópole das matérias-primas produzidas e a compra dos produtos manufaturados por Portugal ou Inglaterra ao mesmo tempo em que proibia o simples tear do algodão produzido aqui. Quanto mais rica em ouro, diamantes e outras pedras preciosas se mostrava a colônia americana, mais restrições a metrópole impunha. Assim a região das Minas Gerais era impedida de ter escolas, algum produto resultado de industrialização nascente e lideres políticos ou pessoal pensante. Em termos de população, os primeiros a chegar eram os degredados, os rejeitados judicialmente da metrópole portuguesa. Estes eram deixados à sua própria sorte nas praias aparentemente desertas. Para uma melhor compreensão destes primeiros colonos enviados, precisamos lembrar quão incipiente era o sistema jurídico de então magnificamente exemplificado pela Inquisição reinante.

Mesmo assim, em 1789, Minas Gerais e Rio de Janeiro foram palco do movimento libertatório conhecido como Inconfidência Mineira, sonhado e delineado pela elite pensante e instruída daqui, oprimida pelas regras do Projeto Português para a Colonização da América e seu desfecho dramático/trágico, quando o alferes Joaquim José da Silva Xavier foi escolhido como mártir exemplar para todos os descontentes brasileiros. Era óbvia a sedução que o enforcamento do alferes representava para o governo português: pouca gente levaria a sério um movimento chefiado por um simples Tiradentes. Um julgamento exibição seguido pela execução pública de Joaquim Silva Xavier (proclamado Tiradentes) proporcionaria o impacto máximo, como advertência, ao mesmo tempo em que minimizaria os objetivos e alcance do movimento. Assim a base fundante da “Alma Brasileira” se construiu sobre uma derrota, nascendo então uma autoimagem rebaixada e inferiorizante. 

(*) Psicóloga e psicanalista

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