ARTICULISTAS

As frágeis vítimas dos fortes predadores

O chocante nestes massacres é o fato de serem preferencialmente

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 19/12/2012 às 20:33Atualizado em 19/12/2022 às 15:43
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O chocante nestes massacres é o fato de serem preferencialmente dirigidos aos frágeis menores cuja proteção vital depende totalmente dos adultos que “cuidam” deles. A reação de todos também tem seu substrato numa máxima – “vá brigar com um do seu tamanho!” – que durante todo o tempo de formação humana foi exaustivamente repetido pelos educadores. Quanto ao agressor só nos resta uma tentativa de explicação psicológica cujo objetivo não é um julgamento com condenação ou absolvição, mas apenas uma orientação preventiva.

O ato é uma transgressão social às leis que foram culturalmente elaboradas ao longo do tempo de humanização do ser e adotadas por todos que compartilham da estruturação de uma vida em sociedade sem a qual a sobrevivência estaria seriamente comprometida.

Numa clínica psicanalítica, considerando os amores edipianos em suas vicissitudes, o agressor se encaixaria na estrutura perversa cuja principal característica é o desafio e a transgressão de acordo com sua adesão à conjunção do desejo e da falta: na tríade originária Pai, Mãe e Filho este dirige seu ataque à Lei do Pai, uma vez que só reconhece seu próprio e imperioso desejo negando qualquer possibilidade de submeter-se ao desejo do outro que fundamenta a Lei do Pai. Para tanto, ele necessita evidentemente de um cúmplice imaginário ou real – a Mãe transformada então em testemunha privilegiada. Para o perverso, a coisa essencialmente inadmissível por excelência é a questão do desejo da Mãe pelo Pai cuja negação pode ser mantida pela ambiguidade parental (distanciamento paterno e sedução materna) que possibilita enfim o campo da ilusão – sustentação do fantasma de ser o único objeto de desejo que dá prazer à Mãe.

O Perverso aparece em vários personagens literários e cinematográficos. No filme “Melhor Impossível” ele caracteriza o pintor homossexual que na juventude treinava seus nus artísticos tendo a mãe como modelo, sempre nas ausências do pai assim mantido distante do erotismo da relação Mãe/Filho. A revelação se dá duplamente: o Pai dês-cobre a intimidade do relacionamento Mãe/Filho e o expulsa de casa; o Filho dês-cobre a submissão do desejo da Mãe ao desejo do Pai (Lei do Pai) quando ela permite a expulsão e se mantém junto ao marido.

No massacre focado, o Filho/transgressor dirige o ataque destrutivo à Mãe e seus alunos com a própria arma materna sob a cumplicidade do olhar dos outros tornados testemunhas da sua lei.

(*) Psicóloga e psicanalista

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