Teoricamente a democracia seria “doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição equitativa do poder, ou seja, regime de governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral, pela divisão dos poderes e pelo controle da autoridade.” (Novo Dicionário do Aurélio). Definição em tudo contraposta à fala de Luiz XIV: “o estado sou eu!”. Mas, como disse no início, teoricamente, porque vivemos um estado democrático, o que seria: prevalência da vontade popular, divisão do poder e controle da autoridade. E isso é o que não vemos no Brasil.
Vontade popular – se mostraria pelo voto na medida em que os governantes estariam apenas representando aqueles que lhe concederam o direito de mostrar nas esferas decisórias suas necessidades, determinando assim as ações governamentais. Em antiga campanha publicitária muito bem concebida: jovens que podendo falar tudo o que pensavam não eram escutados porque lhes faltava o título de eleitor; onde se conclui que só seremos escutados através dos nossos votos! Em sã consciência, quem afirmaria atualmente uma representação fidedigna entre os políticos e o povo? As ações da Câmara e do Senado só falam dos conchaves, das trocas de favores, das compras de consciência e opinião. O interesse pessoal acima de qualquer outro; a guerra pela concentração de poderes; a formação de quadrilhas do “colarinho branco”.
Voto popular – quando os gregos lançaram as bases da república em particular, a participação do povo no governo, através do voto, tinham por referência uma sociedade igualitária baseada numa identidade cultural e social. Aqui temos uma desigualdade secular cultural, o que transforma o voto popular em moeda de troca facilmente comprado pelos poderosos. Assim temos uma minoria pensante e participativa e uma grande maioria não pensante e não participativa, porém decisiva: é ela quem decide, porque a República está calcada na afirmativa: a maioria decide porque sabe!
Vocação popular – entre estarrecidos e mudos (apesar dos títulos de eleitores em dia com as votações), acompanhamos o desfile carnavalesco dos que, ao se mostrarem na nudez dos propósitos individualistas, finalmente, se des-fantasiam dos propósitos altruístas gritados nos palanques de campanha. Querem nos fazer de burros ou pensam que somos burros!
(*) psicóloga e psicanalista