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Cartas mineiras

O Dr. Vicente Mendonça enviou-me tesouro precioso: quatro artigos - Cartas da Capital

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 08/07/2015 às 20:00Atualizado em 16/12/2022 às 23:23
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O Dr. Vicente Mendonça enviou-me tesouro precios quatro artigos – “Cartas da Capital”, que seu avô materno, Dr. Alexandre da Cunha Campos, redigiu para o Gazeta de Uberaba nos meses de dezembro/1893 e janeiro/1894, onde ele expressava suas impressões sobre os acontecimentos vividos pela população de Ouro Preto, então Capital Mineira. A primeira carta focava o eletrizante tema da transferência da capital para Belo Horizonte, e o nosso correspondente na capital, ao comentar o fato, demonstrou sua própria percepção e, de certa forma, seus sentimentos ao dizer que Ouro Preto se apresentava “tristonha” depois de ser “traída” pelo Congresso Estadual, reunido no dia 13/12/1893, em Barbacena, onde se decidiu em terceira votação pela mudança da capital. A traição se referia em especial ao Almirante Saldanha da Gama, reconhecido monarquista.

Para o Dr. Alexandre Campos, a população da “legendária” Ouro Preto encontrava-se calma e até mesmo indiferente, mas bastou o manifesto do Almirante Saldanha para provocar a imediata organização de um batalhão de jovens, que em plena praça da Independência, sob a sombra do protomártir do Brasil – Tiradentes, e inspirados nos seus ideais, criavam slogans e faziam pronunciamentos, conclamando todos a pedir explicações aos seus líderes. Assim se dirigiram ao Palácio do Governo e às casas de Augusto de Lima, Antonio Olyntho e David Campista. Esse movimento da juventude teve como consequência a publicação da opinião de Affonso Penna em forma de boletins, onde ele se declara “republicano convicto e sincero e intransigente defensor do governo legal”.

Nota-se, pelo texto do Dr. Alexandre Campos, a efervescência dos ânimos, a pronta reação dos ouro-pretanos, a disposição de todos em lutar pelos ideais de liberdade e independência, consequência inevitável de toda uma anterioridade desastrosa onde se sofreu a imposição de leis severas e proibições rigorosas, cujo único propósito era a apropriação sistemática e ampla dos bens locais pela metrópole longínqua.

Voltando ao texto do nosso correspondente na capital, somos informados de que havia a possibilidade da nova capital mineira ser na Várzea do Marçal (área localizada entre São João del Rei e Tiradentes, abandonada por ser formada principalmente de pântanos e assim imprópria para a instalação de uma cidade), mas o verdadeiro desejo mineiro era a ampliação e manutenção de estradas de ferro, a construção de estradas de rodagens e a compra de um porto marinho. Caso se concretizassem, nossa progressiva Minas Gerais se completaria: riqueza mineral abundante, povo aguerrido e desenvolvimentista, com canal próprio para exportação e importação de produtos – glória total e absoluta para os mineiros!

(*) Psicóloga e psicanalista

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