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Casamentos e seus segredos de contratos

O conhecimento de que a vida psíquica não se restringe ao que se encontra

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 30/04/2014 às 19:55Atualizado em 19/12/2022 às 08:00
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O conhecimento de que a vida psíquica não se restringe ao que se encontra na consciência é compartilhado por todos que fazem ou estudam psicanálise. Da mesma forma, a importância e o papel do inconsciente presente nas ações humanas é aceito e se torna paradigma da escuta psicanalítica. O casamento tem suas motivações também inconscientes, o que implica que raramente é possível saber, questionando diretamente, qualquer razão convincente do porquê da escolha do parceiro ou qual a natureza do casamento. Se perguntarmos a alguém por que ele se casou com determinada pessoa e por que o casamento se desenrola desta ou daquela maneira, provavelmente receberemos como resposta generalidades banais, que são muito pouco convincentes.

É óbvio que as razões de se apaixonar repentinamente e intensamente são geralmente inconscientes. A escolha do companheiro parece frequentemente ser feita muito rapidamente, baseada em relativamente pouco conhecimento consciente e, como se torna evidente, precisa complementaridade e ajuste de personalidade.

Um aspecto importante do funcionamento mental inconsciente é o de que o indivíduo tende a lutar com desejos não realizados ou com sentimentos dolorosos, através de uma variedade de artifícios autoprotetores, conhecidos na teoria com mecanismos de defesa. Os desejos e as frustrações que, na fantasia, se dirigem a outra pessoa podem afetar nosso relacionamento tanto na vida real como no nível da fantasia, tornando comum a situação onde colocamos fora sentimentos num processo denominad projeção.

O casamento, por envolver fortes laços emocionais, oferece campo fértil aos mecanismos projetivos, que acontecem desde a escolha do parceiro até as vicissitudes da vida em comum tanto do sujeito ao objeto como do objeto ao sujeito. Outro aspecto merece atenção e se dá quando o parceiro se encontra apto e desejoso de aceitar e atuar algo daquilo que o outro necessita projetar. Quantas vezes escutamos um marido dizer orgulhosamente: “Minha esposa sempre faz as coisas à sua maneira. Ela coloca as pessoas no seu devido lugar”. Traduzindo, podemos entender que ele quer que ela aja desta maneira em parte por ele, pois não consegue agir tão diretamente.

São particularmente instrutivos os casos em que um bom parceiro(a) nos traz um marido ou esposa doente como o paciente. Nota-se frequentemente que, apesar das aparências contrárias, a doença é de fato compartilhada pelos dois, mantendo-se bem o companheiro bom, através da cooperação do outro que é ostensivamente o doente. E não raramente a melhora do doente adoece o outro. A chegada dos filhos e consequente partilha projetiva criam uma teia complexa de projeções e identificações que pede análise profunda para reversão.

(*) Psicóloga e psicanalista

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