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Choque de realidade

A Copa Mundial sediada pelo Brasil provocou uma experiência

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 16/07/2014 às 19:55Atualizado em 19/12/2022 às 06:52
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A Copa Mundial sediada pelo Brasil provocou uma experiência distinta de vida durante seu tempo. Assim, a rotina diária de cada um sofreu profundas e significativas alterações: interrupções sistemáticas das atividades, encontros inabituais com amigos e famílias, olhos presos na tela da TV, alegria, dores e muito exagero alcoólico, principalmente entre os jovens. Cada 45 minutos, que muitas vezes se expandiram nas prorrogações e até mesmo na disputa de pênaltis, propiciaram momentos cruciais de pura emoção.

Esta Copa também se destacou pela positividade dos brasileiros “fora do campo” e negatividade “em campo”. Os comentários noticiados falam da “cordialidade brasileira”, expressa na alegria cantante, na acolhida gentil, na abertura à proximidade apesar das obras inacabadas, das brigas, dos alagamentos em cidades-sede, das invasões de estádios, dos tumultos e dos ônibus incendiados pelo país após as partidas. Não podemos nos esquecer de que esta foi a Copa das Redes Sociais: os vídeos, as piadas, as imagens jocosas apareciam nas redes imediatamente após os fatos – nunca se riu tanto, apesar de tanta dor.

A presença brasileira no gramado nunca convenceu, mas, ninguém esperava tanta humilhação como a sofrida no jogo frente à Alemanha. A experiência nacional pode ser aludida ao mito diluviano – um castigo horroroso sobre o mundo - o extermínio de todos os seres vivos na violência das águas destrutivas. Pela ciência atual, o dilúvio foi a primeira ocorrência mundial de um tsunami, foi assim que os torcedores brasileiros viveram os 90 minutos daquele jog  como se um tsunami tivesse passado, destruindo-os.

Os até então desconhecidos craques nacionais mostraram-se em todas as falácias dos ídolos de papel: desmancharam-se como qualquer pedaço de papel amassado e jogado numa forte correnteza. Na ânsia por modelos ideais, que conseguissem servir de inspiração e aspiração de vida, lembrando ainda do “jeitinho brasileiro” que tenta encontrar água no deserto, os jogadores se transformaram em ídolos e ideal de viver encontrando-se nos sonhos de muitas crianças, mesmo porque desenvoltura com a bola pertence ao patamar primeiro e rudimentar das habilidades.

 Voltando ao dilúvio/tsunami decodificamo-lo como se a divindade/natureza se revoltasse com aqueles que a habitam, destruindo tudo para impor uma nova lei. A malícia do homem é reparada pelo extermínio de todos os seres vivos, mas a fidelidade de um servidor é recompensada e ele é salvo, juntamente com todos os germes da vida. Uma força sobrenatural, senhora da vida e da morte, apresentou à humanidade pecadora sua face temível; essa mesma força oferece, em seguida, uma face benevolente àquele que vai reconstruir uma nova criação, que se traduz para nós na possibilidade de um Brasil com Ídolos de ferro, sem Corrupção e com Justiça de Iguais.

(*) Psicóloga e psicanalista

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