Esta fórmula de Woody Allen mostra-nos a confusão vivida pelo homem referente ao sentir felicidade. De início percebe-se uma dificuldade no reconhecimento racional do ser feliz pela sua superlatividade, ou seja: estamos separados da felicidade pela própria esperança que a persegue; ou seja, pelas características incompatíveis do sonhar e do viver. Querer ser feliz não se compara com o ser feliz verdadeiramente. Neste momento, os filósofos como Epicuro, Spinoza e outros nos auxiliam através dos seus textos ao nos esclarecer: “só teremos felicidade à proporção da desesperança que seremos capazes de atravessar.”
Para Santo Agostinho a felicidade é justamente “a alegria que nasce da verdade.” De acordo com esta idéia, seremos felizes quando considerarmos o sentimento de felicidade em sua relação temporal não somente do início e fim da sensação, mas também enquanto finitude humana que se contrapõe ao infinito. O homem tem mania de infinito quando imagina sua origem e seu destino. A multiplicidade de ficções que construímos sobre nós mesmos e que nos fazem poder ser tudo quanto conseguimos sonhar explica o infinito das origens, e o narcisismo explica a extensão do futuro projetado.
Schopenhauer legou-nos anotações esparsas sobre felicidade: “assim como o caminho que percorremos fisicamente sobre a terra é apenas uma linha, e não uma superfície, na vida, quando queremos agarrar e possuir algo, devemos deixar muitas coisas à direita e à esquerda e renunciar a diversas outras. E, se não soubermos lidar com tal fato e, ao contrário, tentarmos pegar tudo o que nos atrai pelo caminho, como crianças na feira, é porque temos a aspiração insensata de transformar numa superfície a linha de nossa vida, corremos, então em ziguezague, vagando aqui e ali como fogos-fátuos e não conseguimos nada.” A lição de vida apresentada por ele nos indica a sabedoria da escolha como fator essencial e definidor do ser e estar feliz. A felicidade, portanto, dependeria do conhecimento relativo ao que se quer diante do que se pode. Se, no entanto, considerarmos o querer como desejo, acabaremos por nos deparar com a sombra em nós, o enigma, o inconsciente e este sempre desvela um desconhecido que nos desequilibra. “Para o ser humano, os momentos mais felizes, os de maior êxtase de vida, são exatamente os mais funestos à vida, e frequentemente nós encontramos, na aspiração a mais nobre, a mais sagrada de nosso ser, um bem-aventuroso aniquilamento”. (Schubert)
(*) Psicóloga e psicanalista