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Conselhos maquiavélicos

De Niccolò Machiavelli podíamos esperar contribuições

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 12/02/2014 às 19:28Atualizado em 19/12/2022 às 09:03
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De Niccolò Machiavelli (1469-1527) podíamos esperar contribuições nas áreas da Filosofia Política, da História, da Diplomacia, das artes em geral (poesia, dramaturgia, música, desenho e estratégia) já que era um intelectual superdotado do Renascimento florentino; mas a surpresa nasce ao depararmos com seus conselhos ao filho Guido de como tratar psiquiatricamente uma mula que ficara louca (carta de 2 de abril de 1527 – Vallejo-Nagera).

“Você diz que a mula jovem ficou maluca. Bem, tratê-mo-la exatamente ao contrário do que costumam fazer com os lunáticos. São amarrados. Desamarre a mula, entregue-a a Vangelo para que a leve a Montepugliano e a solte, para que possa ir onde quiser, para que consiga o seu próprio sustento e supere sua doidice. Por ali há grandes prados. É uma mula muito jovem, ali não pode fazer nenhum estrago. Então, sem se preocupar com ela, observe como vai. Podemos esperar para apanhá-la até vermos que recobrou a razão.” Os sábios conselhos de Machiavelli para o sucesso do tratamento psiquiátrico, podem ser resumidos em: manutenção do convívio social, liberdade vigiada e responsabilidade total sobre seus atos para, inclusive, a manutenção da própria vida. Para ele, estes são os requisitos necessários e suficientes para recobrar e manter a razão.

A biografia de Machiavelli comprova sua efetiva participação na vida política de seu tempo, sua acuidade intelectual bem como argúcia técnica na arte de guerrear. Desde os vinte e oito anos atua ativamente no campo público e político da sua cidade. É designado embaixador junto ao imperador Maximiliano, junto ao Papa, junto a Cesar Bórgia, junto ao  rei da França Luis XII, sempre em missões difíceis e às vezes arriscadas, que resolve bem e sobre as quais envia relatórios que ficaram como modelos, através dos tempos. Em relação às guerras chega à convicção de que se deve abandonar o sistema de mercenários e estabelecer uma Milícia Nacional, com naturais da República, os quais, pela lógica, estarão mais nobremente motivados a defendê-la. No entanto, após algumas vitórias, se depara com a debandada de sua tropa frente ao inimigo temido. Assim é destituído de seus cargos,  proibido de se aproximar do Palazzo Vecchio e forçado abandonar Florença por 10 anos.

Inspirando-nos em Machiavelli podemos propor, frente ao caos social de agora, a inserção dos jovens infratores numa vida útil e responsável o que inclui a assunção dos próprios delitos perante a lei e suas penas, o trabalho para seu próprio sustento, o convívio com os outros em campo real sem as máscaras que ocultam identidades e obsessões facilmente ignoradas ou escondidas nos porões do inconsciente, longe também do surto das técnicas de influenciamento ou embrutecimento decorrentes das muitas teorias “rousseaunianas” apiedantes que eliminam o contrato social primário possibilitando a violência.

(*) Psicóloga e psicanalista

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