“A Execução dos Távoras” pode ser vista atualmente em víde toda uma família torturada e morta em praça pública, a saber: pai, mãe, filhos, amigos, criados e parentes. Os que não foram atingidos por esta sentença extrema perderam todos os seus bens e foram para a prisão ou conventos de clausura – esta última punição reservada às mulheres. Temos vários registros deste período no mínimo estranho e/ou maquiavélico, como, por exemplo, o romance de Maria Tereza Horta, prêmio D. Diniz 2011, As luzes de Leonor. Tudo isso porque a vida de um Rei foi colocada em risco! Vale dizer que não houve realmente um regicídio, apenas um atentado e uma bala de raspão pelo braço de D. José I. Na ânsia de punir e mostrar lealdade ao Rei, o Marquez de Pombal condenou toda a família da amante: Tereza Leonor, casada com Luís Bernardo – herdeiro da família de Távora –, com quem ele tinha um encontro e estava voltando para a família.
Sebastião José de Carvalho e Melo – o Marquez de Pombal –, primeiro ministro na Corte de Dom José I, muito bem visto então pelos excelentes trabalhos de reconstrução de Lisboa após o terrível terremoto de 1755, também tinha seus inimigos declarados ou não, dentre eles a nobreza e os jesuítas. A Marquesa Leonor de Távora, matriarca da família, pertencia à nobreza e era católica devota, tendo como confessor o Jesuíta Gabriel Malagrida. Ela estava na confluência de dois grandes empecilhos à total autoridade e poder do Marquez, como era sua crença.
O processo e a sentença foram rápidos, bem como executados, a princípio, sem divulgação. As confissões foram conseguidas sob tortura. Os enforcamentos iniciais, como num passe de mágica. Ainda hoje se pode ver um marco alusivo ao processo e sentenciamento num beco nominado “Beco do chão salgado”, a mando do Rei D. José I. Os jesuítas também foram punidos no enforcamento de Gabriel Malagrida. A Companhia de Jesus, considerada ilegal, teve seus bens confiscados e sua expulsão do território português.
Numa revisão posterior, os Távoras foram considerados inocentes e redimidos, à exceção do Duque de Aveiro. O desprezo de D. Maria pelo primeiro-ministro de seu pai foi total. Retirou-lhe todos os poderes e o expulsou de Lisboa. Além disso, emitiu um decreto proibindo a sua presença a uma distância inferior a 20 milhas da capital. Das 400 pessoas citadas no processo, muitas fugiram até para o Brasil, “sendo o caso mais conhecido e misterioso o Frei Lourenço, fundador do Convento do Caraça em Minas Gerais”. Até mesmo a conservadora monarquia apresenta mudanças: a morte de D. José e a aclamação de D. Maria marcaram o fim da era Pombal, para o deleite de muitos.
(*) Psicóloga e psicanalista
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