ARTICULISTAS

Corrigindo o argumento

É fato repetitivo e exaustivo o retorno a cada tempo

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 17/10/2012 às 19:58Atualizado em 19/12/2022 às 16:50
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É fato repetitivo e exaustivo o retorno a cada tempo pré-eleitoral de uma argumentação baseada no critério da estratificação social por sua vez sustentada numa concepção errônea. Nos dias de hoje, antecedentes ao segundo turno das eleições para Prefeito Municipal, somos, mais uma vez, torpedeados incessantemente com a máxima de que um dos candidatos é da elite e a representa no pleito; já o outro é do povo e o representa. Para esclarecer e corrigir o argumento precisamos consultar autores atuais e anteriores através dos textos editados ou constantes nos e-books.

O verbete elite no Novo Dicionário Aurélio está assim definido em relação à sociologia: “minoria privilegiada e dominante no grupo, constituída de indivíduos mais aptos e/ou mais poderosos.” Na Wikipedia encontramos: “Na política e nas teorias sociológicas é um pequeno grupo de pessoas que detém quantidade desproporcional de riquezas ou poder político.” Para Thomas Bottomore, a palavra elite era usada inicialmente durante o século XVIII para nomear produtos de qualidade excepcional. Posteriormente, o seu emprego foi expandido para abarcar grupos sociais superiores tais como as unidades militares de primeira linha ou os elementos mais altos da nobreza. Assim, de modo geral, o termo elite designa um grupo dominante na sociedade ou um grupo localizado em uma camada hierárquica superior numa dada estratificação social. Gaetano Mosca localiza o termo elite na doutrina da classe política e Vilfredo Pareto  como uma alternativa ao conceito de classe dominante.

Lemos que entre os gregos e romanos aqueles que tinham a capacidade de decidir sobre os assuntos do Estado eram apenas os cidadãos, portanto, o “povo” estava excluído. E na Idade Média o povo era o “Terceiro Estado”, ou seja, a plebe sem direitos de cidadão, e ficou com esse “estado” até os nossos dias, considerado como a massa de cidadãos sem capacidade psicológica para participar na gestão do Estado.

Este simples levantamento temático nos afirma que em síntese todos os políticos pertencem à elite uma vez que eles são os verdadeiros poderosos – aqueles que dirigem o Estado e o seu rico orçamento. Por outro lado, a palavra “povo” está esvaziada da ideia de se referir àqueles que estão fora da gestão do Estado, uma vez que qualquer brasileiro pode se apresentar como candidato a algum cargo administrativo em qualquer instância: municipal, estadual ou nacional. E mais ainda: como todos têm o direito ao voto, o povo do mundo contemporâneo também participa ativamente do governo em suas diretrizes fundamentais ao escolher aquele que estará no poder, portanto aquele da elite.

(*) Psicóloga e psicanalista

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