ARTICULISTAS

Cultura da imagem

Contemporaneamente, em acordo com as mudanças sociais, que incluem modificações nos valores e objetivos de vida

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 12/01/2011 às 21:33Atualizado em 20/12/2022 às 02:11
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Contemporaneamente, em acordo com as mudanças sociais, que incluem modificações nos valores e objetivos de vida, acontecem novas formas de subjetividade que afirmam importantes rupturas aos primórdios da modernidade. É fácil constatar que vivemos um esvaziamento de Deus e da interioridade, onde o que é importante se restringe ao individual. Lasch nos fala de uma “cultura do narcisismo” e Débora, sobre uma “sociedade do espetáculo”, com o ofuscamento do espaço privado pelo público transformando a exibição como razão de ser da existência. Assim a internet e os sites de relacionamento colocam todos na vitrine e exigem dos sujeitos múltiplas performances, que submetem suas ações. A atualidade é a própria “cultura da imagem”, onde se dá a “hegemonia da aparência”.

Em consonância com as novas subjetividades, encontramos novas sintomatologias: depressão, manifestações psicossomáticas, drogadicção, hiperatividade, distúrbios alimentares. Segundo Birman, os indivíduos são desafiados a uma exigência de performance no “palco da vida” e experimentam o fracasso em glorificar o eu – fracasso em participar nesta cultura do narcisismo – levando a modalidades negativas de subjetividades.

Maia também nos chama a atenção para as novas formas de sofrimento psíquic as graves feridas no plano narcísico que revelam o esvaziamento da interioridade, o empobrecimento linguístico e fantasístico ou até mesmo certo anestesiamento diante de si e do mundo. O grande perigo atual torna-se a experiência de fragmentação do eu quando acontece uma ruptura narcísica, diferentemente do anteriormente vivid o medo da impotência ou da castração. Em outras palavras, o risco de agora é deixar de ser e antes era não conseguir ser o desejado.

Assim há uma busca pelas drogas lícitas ou ilícitas ou ainda outras saídas compulsivas, como tentativa desesperada de preencher o lugar vazio dos pais faltantes. O uso compulsivo da droga se insere numa busca de completude, de preenchimento do nada interior. Ela representa o proibido numa cultura sem lei, é o império do absoluto, do objeto que não tem substituto, sem as mediações do “como se” já que os sujeitos estão presos à dimensão do único e não conseguem passar de um para outro que o represente. O gozo na ingestão de pozinhos, balas ou docinhos ou, ainda, inalação de fumacinha surge como uma tábua de salvação dentro da lógica atual: a satisfação imediata, sem intervalos e que não pode esperar. São sujeitos marcados pelo desamparo, em vivências melancólicas e graves quadros depressivos onde são dominados por uma sensação de não ser e solidão resultada de uma dor psíquica inassimilável.

(*) psicóloga e psicanalista

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