A comoção nacional em torno do acidente, morte e sepultamento de Eduardo Campos está registrada na imortalidade dos sentimentos e documentada nas imagens psíquicas que cada um leva para sempre em seu mundo interno. Se temos informações sobre famílias deslocando-se para Recife assim que ouviram pelo radinho de pilha as notícias do ocorrido, abandonando suas tarefas rotineiras, só para prestar homenagens ao líder político que se despedia; também vemos as lideranças políticas, em época assaz pertinente, afluir em massa à capital, homenageando e, divulgando sua própria pessoa; e, por último mas atualíssimo e extremamente revelador muitas pessoas de celulares em punho, na árdua tarefa de se fazerem conhecidos (amados), clicando oportunos selfies ao lado do caixão!
Os celulares estão definitivamente integrados ao mundo de hoje, e muitos levam consigo não apenas um aparelho, mas dois ou três de diferentes empresas operadoras, com diferentes funções no dia a dia do proprietário, e, certamente com diferentes e cada vez mais refinadas possibilidades. Em todos os lugares e nas mais diferentes situações lá estão eles: são fotos ambientais, em conjunto ou individuais, comuns ou selfies capturadas exaustivamente e em profusão a ponto de serem questionadas e proibidas em casamentos, cerimônias festivas e religiosas e, agora em velórios também!
À primeira vista poderíamos culpar os aparelhos celulares, cuja aceitação geral e praticidade de estar sempre à mão é notória; mas uma simples reflexão nos lembra que as máquinas fotográficas já fazem parte da vida cultural há um bom tempo, a novidade deste uso indiscriminado está na relação direta com a divulgação pessoal que as redes sociais criaram e mantêm, porque essa necessidade de fotografar os momentos e os fatos do viver está na capacidade de, imediatamente após a ação, postar nas redes e, felicidade suprema receber as mensagens de “curti” dos outros internautas. Assim quanto maior o número de curtições mais significativas para a pessoa focada, que assim ela passa a priorizar e valorizar cada vez mais os resultados numéricos de acessos à sua página.
Não são apenas os políticos que sonham e investem na circulação pessoal de imagens e notícias nos meios de comunicação ou nas redes sociais! A máxima deste tempo é atentar e revelar, mais uma vez, os números de acessos e curtições que sua página recebeu! Todo esse fervor e devoção têm um nome bastante conhecid narcisismo – a contemplação repetitiva, mortífera e enamorada da própria imagem, que neste instante simboliza o Eu, ao mesmo tempo que também por ser imagem é fina, frágil e inconsistente. A máxima atual é viver bem: consumir, festar, pular nas canções com seus ídolos (lembrando Menescal quando diz que a MPB de agora é Música Prapular Brasileira), nada de trabalho, responsabilidade e disciplina!
(*) Psicóloga e psicanalista