ARTICULISTAS

De Maquiavel a tantos outros!

Nenhum outro é tão malvisto socialmente

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 31/10/2012 às 21:06Atualizado em 17/12/2022 às 09:12
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Nenhum outro é tão mau visto socialmente quanto Maquiavel; nenhuma outra profissão é tão mau vista socialmente quanto a política. Há séculos uma auréola de maldade, de falta de escrúpulo, de velhacaria e de astúcia tem sido associada ao escritor e estadista florentino – Nicolau Maquiavel; há tempo o povo demonstra seu repúdio e rejeição a esta arte ou ciência da organização, direção e administração do estado ou nações!

Em sua obra, “O Príncipe” Maquiavel, tendo participado ativamente da vida pública da sua cidade como embaixador junto ao Imperador Maximiliano, junto ao Papa, junto a César Bórgia e o rei da França, Luis XII, sempre em missões difíceis e às vezes arriscadas, organiza suas experiências num livro feito para orientar o governante como agir e quais virtudes deveria ter a fim de se manter no poder e aumentar suas conquistas, ao mesmo tempo em que caracteriza o princípio amoralista de que os fins justificam os meios. Esta obra provocou em Napoleão o seguinte comentári único livro que se pode ler!

O princípio ético que norteia a Ciência Política – buscar o poder para o bem público – torna-a profissão primeira porque nenhuma outra é mais nobre, mas ao mesmo tempo exige daquele que a exerce responsabilidades só compatíveis com grandes qualidades morais e de competência. Além dos valores básicos de não matar e não roubar, o político deve mostrar ao povo que o elegeu sua capacidade de defender o bem comum e o bem-estar de toda a sociedade, sem se preocupar com o simples exercício do poder, porque aqueles lhe deram a oportunidade única de influenciar suas vidas a partir das decisões tomadas. Ele pode optar por uma guerra e milhões de jovens perderão suas vidas, milhões de crianças ficarão órfãs, milhões de pessoas terão seus sonhos abortados. Ele pode optar por um segmento social em detrimento de outros, a fim de se eternizar no cargo e muitos verão ruir suas chances de felicidades. Ele pode optar por uma lei de mercado e fazer naufragar o sistema econômico vigente. Ele pode optar por usar o povo como meio destruindo assim sua liberdade porque o poder político é o poder de um homem sobre outro homem.

Como nos alerta Stefan Zweig, o valor da vida humana não é absoluto e varia conforme o tempo e os países: a moral fica sempre relativa; cada época tem sua maneira de apreciar os fatos; a nossa, por exemplo, parece ter deduzido a moral não das Escrituras, mas de Maquiavel, no entanto, uma grande massa fala no silêncio e age nas abstenções!

(*) Psicóloga e psicanalista

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