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Dê-me este espelho, é nele que eu quero ler (Shakespeare)

Tudo começou com a perda do direito de viverem na plenitude do Paraíso por causa da sedutora EVA, responsável pela desobediência do frágil ADÃO

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 26/05/2010 às 19:47Atualizado em 20/12/2022 às 06:23
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Tudo começou com a perda do direito de viverem na plenitude do Paraíso por causa da sedutora EVA, responsável pela desobediência do frágil ADÃO, incapaz de resistir aos mandos femininos, escolhendo acatar as ideias da sua companheira ao invés de respeitar as leis daquele pai poderosamente provedor, cujo único desejo era ser obedecido! A partir de então, as portas do paraíso foram fechadas para sempre e aquele primeiro casal foi obrigado a enfrentar o desconhecido e ameaçador mundo “fora do paraíso”, tendo ainda que se sustentar em todas as suas necessidades, bem como dos seus descendentes.

Se levarmos em conta as estórias do Livro Sagrado foi assim que o homem conheceu o sofrimento, a dor e a morte: tudo por causa da teimosa e tentadora Eva, que com seu “charme e beleza” subjugou Adão aos seus caprichos. Depois deste terrível episódio, com consequências para toda a humanidade, a mulher perdeu todo poder tanto sobre si mesma como sobre seu companheiro.

Essa incrível racionalidade onde o certo e o errado se tornam evidentes por si só, sem possibilidade de nenhuma interpretação diferente ou contestação presente e futura se torna por isso mesmo altamente questionável.

Depois destes atos o lugar feminino na sociedade passa para a submissão e até mesmo para o desaparecimento no espaço social. Ela perde também o direito sobre seu próprio corp desconhece-o totalmente, não o experimenta para o prazer, e adquire uma única funçã mantenedora da vida, reprodutora da espécie, em obediência às leis masculinas de reclusão, servilismo e inferioridade presumida.

Não precisamos nos afastar muito dos tempos atuais para encontrar a mulher restrita ao espaço do lar, se ocupando com a manutenção da vida intrafamiliar sem, no entanto, ser reconhecida como verdadeira batalhadora em prol da família, que dela retirava toda a força e sustentação para SER à custa do NÃO-SER feminino.

A verdadeira revolução feminina não aconteceu com a eliminação dos espartilhos, com as passeatas, as queimas dos soutiens, os cortes “la garçon” dos cabelos, mas sim quando ela assumiu seu nome próprio. Ele situa-se justamente na fronteira da elaboração do natural em direção ao cultural. Ele marca a presença do sujeito e envia uma história em elaboração continuada. Ele é a marca do sujeito em processo perpetual!

(*) psicóloga e psicanalista

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