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Desmapeamento e desamparo na relação pais/filhos

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 19/03/2014 às 11:05Atualizado em 19/12/2022 às 08:34
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Elisabeth Roudinesco afirma a configuração especial da família a partir de 1960 com uma “tribo insólita” semelhante a “uma rede assexuada, fraterna, sem hierarquia nem autoridade, e na qual cada um se sente autônomo ou funcionalizado”. Outros autores como Sérvulo Figueira denominam esta nova família reconhecida a partir dos anos 60 como igualitária por estarem reguladas pela ideologia do igualitarismo. Para ele, a família tradicional ou hierárquica perdeu espaço diante desta nova configuração denominada igualitária. Naquela os indivíduos eram definidos com base em sua posição, sexo e idade.

Também existiam numerosas ideias sobre o “certo” ou o “errado”, o que representava certo “mapeamento”: homem e mulher percebiam-se como diferentes, agindo de acordo com o que era tido como adequado a cada sexo, sem perder de vista a posição social de cada um no interior familiar, ou seja, na relação pais e filhos. Em contraposição na família igualitária ou não hierarquizada os membros se percebem como iguais porque indivíduos e as escolhas são limitadas apenas pelo respeito à individualidade alheia. Portanto, na vida privada - harmonizando-se com a pública - o sujeito contemporâneo depara-se com a ausência de autoridades rígidas, de regras e referenciais estáveis, encontrando-se, então, imerso num contexto onde nada mais está “dado”, e no qual é convocado a construir suas próprias referências e a elaborar normas que regulem sua existência.

Para Hugo Mayer, a ambiguidade do lugar ocupado por homens e mulheres como pais na atualidade é geradora de crise na instituição familiar. Para este mesmo autor, tanto o homem quanto a mulher puseram o espaço da casa em segundo plano. A mulher, que antes possuía o domínio exclusivo da vida familiar, lançou-se numa busca de reconhecimento e poder nos demais espaços sociais. O homem, por mais que se “maternalize”, não tem como substituir as funções maternas de forma apropriada e integral. Os filhos, consequentemente, estão à deriva, sofrendo traumaticamente o impacto das contradições sociais onde reconhecemos o sentimento de desamparo.

Outro fator que se soma às dificuldades de uma família em crise como a atual é que a aquisição de novos ideais e identidades não substituem os anteriores e assim a família igualitária se sobrepõe à hierarquizada - os novos padrões se adicionam aos traços anteriores -, o que caracteriza um “desmapeamento”. A conclusão inevitável é também a constatação de um impasse: pais desmapeados e filhos desamparados caracterizariam a realidade familiar contemporânea onde prevaleceria a ausência de suporte paterno no processo de consolidação da identidade dos filhos.

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