De tempos em tempos uma nova teoria explicativa sobre o caos brasileiro é lançada e confirmada por peritos que a apresentam como “mágica” para o fim de todos os problemas. Em cada época uma área e um redentor são eleitos e altamente divulgados por todas as mídias, acabando por fim a serem aceitos por todos.
O olhar invejoso sobre outras nações e suas grandes obras levou ao planejamento e execução de projetos extraordinários e belos sem nenhuma preocupação com o custo da obra nem tão pouco com o lado social dos trabalhadores e suas famílias. O desmoronamento da economia que apresentou índice inflacionário mensal inimaginável direcionou a atenção para jovens idealistas, teóricos da economia, apresentados então como os “salvadores da pátria” e seus planos heterodoxos. Assim, aprendemos pela experiência na própria carne o significado de: congelamento de preços, tablita, âncora cambial, moratória da dívida externa e outros conceitos nos vários planos que se seguiram. Muitos políticos ancorados nestes talentos iniciantes conseguiram a adesão de eleitores às promessas redentoras tendo como recompensa a conquista do poder. A expertise vinha dos jovens desconhecidos, mas os políticos eram os mesmos e conhecidíssimos parasitas.
Teorias sociológicas também foram usadas como explicação da violência, do tráfico, e da agressão aos mais fracos – mulheres, crianças e velhos – numa infecunda explicação e valorização do morro das milícias e chefes. Nesta época o dono do tráfico foi visto como protetor da comunidade enfavelada, uma vez que distribuía riqueza alimentar e intermediava conflitos. Os morros seriam organizações comunitárias igualitárias, harmoniosas e seu líder um verdadeiro benfeitor.
O abandono dessa crença, mas ainda buscando uma sociologia da violência, da drogadição e de toda contravenção nas desigualdades de oportunidades e discriminação racial, originou uma cobrança ao estado de proteger, amparar e cuidar todos os seus membros nos itens: segurança, educação, saúde, transporte e lazer, levando à construção de milhares conjuntos habitacionais populares e programas assistenciais, tais com Fome Zero; Minha Casa Minha Vida; auxílio-moradia; auxílio social para o leite, o gás, o agasalho, o material escolar e tantos outros...
A lista de teorias mágicas é infindável, mas eu gostaria de abordar as últimas em ascensã a questão do gênero, o racismo, a discriminação e a desigualdade de oportunidades. Uma escola pública de qualidade para todos, abolindo definitivamente as particulares, bem como a separação de banheiros femininos e masculinos, é a solução atual. Fica à margem desta explicação e meta a realidade das formações superiores infindáveis e a restrição evolutiva do mercado de trabalho.
(*) Psicóloga e psicanalista