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Do amor ao ódio – percursos do cotidiano

A vida é o cotidiano, o trabalho, o canto ritmado, o prazer nas relações sexuais e amistosas...

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 28/09/2016 às 21:25Atualizado em 16/12/2022 às 02:45
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A vida é o cotidiano, o trabalho, o canto ritmado, o prazer nas relações sexuais e amistosas, a festa que marca a despedida do tempo gasto, é o prazer da palavra, do bate-papo, dos dons e das danças: os homens procuram fundamentalmente a felicidade e a realização de seus desejos mais profundos. Mesmo quando buscam a destruição do outro ou do meio onde vivem eles estão em busca da felicidade. Mesmo que não saibam o que é felicidade e onde encontrá-la, eles esperam ser felizes.

Podemos iniciar nossa conversa através deste texto na tentativa de definir o que é felicidade e, consequentemente, onde ela está. Dizemos que estamos felizes a partir da experiência de sentir-se bem. De acordo com o Dicionário Aurélio, felicidade é qualidade ou estado de feliz, ventura, contentamento – ou seja, é uma sensação de bem-estar, é uma experiência de bem-aventurança. Revendo algumas anotações feitas durante palestra de Frei Beto, lei felicidade está relacionada a um ideal de si mesmo, quando você se sente perto deste ideal a sensação é de felicidade; assim, uma boa autoestima envolve a experiência de ser feliz. A autoestima também leva a certa independência porque permite um desapego a outras pessoas, a família, a status ou ainda sucesso profissional e/ou econômico.

A característica marcante da experiência de felicidade é que ela pertence ao mundo interno da própria pessoa. O erro está em procurá-la fora, no exterior, em algo, alguém ou algum lugar. Ser feliz é sensação de bem-estar e bem-aventurança que você pode viver em qualquer lugar, situação ou momento de vida. O importante é aprender a buscá-la onde ela verdadeiramente está: dentro de si mesmo.

O homem também é um ser que tem sede de amor. Desde suas primeiras experiências no mundo, ainda no tempo da infância, a criança busca a legitimação do seu nascimento (porque ela poderia nunca ter nascido, ou poderia, da mesma forma, desaparecer), que se dá quando ela se sente amada e desejada. No entanto, o amor arrasta consigo as escórias fundamentais que são a inveja, a posse, a absorção do outro e o ódio – enfim, o amor, no seu extremo, é tão perigoso quanto a violência.

Para completar esta reflexão sobre o amor, temos que abordar seu par contraditório – o ódio. Retomando minhas anotações, encontro nas palavras de Frei Bet o ódio é um veneno que se toma esperando que o outro morra! Mais uma vez esbarramos na dificuldade humana de discriminar o interno com o externo, assim, o ódio é vivido e experimentado por quem odeia e traz consequências funestas àquele que o experimenta internamente. Se o objetivo do ódio é a destruição do odiado, a destruição acontecerá ao sujeito que odeia.

(*) Psicóloga e psicanalista

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