Em 2015, estivemos em Ouro Preto, durante as solenidades do dia 21 de abril, para participar da entrega da Comenda Tiradentes a um grande amigo. A expectativa era de, em comunhão com nossos compatriotas, autênticos mineiros, festejássemos o reconhecimento social a um batalhador das letras em Uberaba no Jornal da Manhã e Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Estávamos eufóricos com o acontecimento.
Acordamos dispostos e bem-humorados, confiando nos festejos que veríamos a seguir. Saindo do hotel e caminhando pelas ruas ouro-pretanas, uma primeira decepçã a cidade estava tomada por ônibus alugados pelo Partido dos Trabalhadores, trazendo a massa de contratados, devidamente reconhecidos pelas pulseiras vermelhas no pulso, que lhes davam o direito a alimentação gratuita e assistência nos diversos hospitais, bares e restaurantes contratados. Nas ruas, andavam em fila, atrás do líder, que empunhava uma bandeira vermelha, entoando “palavras de ordem”: o povo não se cansa de lutar pelo povo oprimido, de lutar pela igualdade,... frases conhecidas e decoradas, talvez sem o conhecimento do real significado de cada palavra.
A praça onde acontecia a solenidade de premiação estava toda tomada pelos manifestantes, facilmente reconhecidos pelas roupas vermelhas e vermelhamente embandeirados, gritando críticas ao governador e reivindicando melhoras salariais e de condições de trabalho. No centro daquela massa vermelha, um pequeno grupo empunhando a Bandeira do Brasil tentava gritar para ser ouvid Nossa Bandeira jamais será vermelha!
A decepção foi imensa. Uma forte tristeza nos tomou por inteiro, uma revolta incipiente foi se estruturando e perguntas que não calavam: O que estamos fazendo ao nosso país? Onde estão nossos símbolos? Qual é a nossa efetiva participação nesta realidade social? Até onde somos responsáveis por estes atos?
Dava para perceber que o pequeno grupo com a Bandeira do Brasil era sistematicamente empurrado para fora da solenidade. Nós também nos sentíamos pressionados a abandonar a área central de Ouro Preto, em busca de algum refúgio onde pudéssemos refletir sobre esta vivência angustiante. Depois, conversando com os ouro-pretanos, soubemos que a grande maioria fecha suas casas e sai, até que tudo volte ao normal! Era insuportável permanecer.
A Bandeira é um símbolo de proteção, concedida ou implorada. O portador ergue-a acima de sua cabeça, lançando um apelo ao céu e assim criando um elo entre o alto e o baixo. Ela tem um valor distintivo; Bandeira de um general, de um chefe, de um santo, de uma congregação, de uma pátria. Ela oferece a proteção da pessoa, moral ou física, de quem ela é a insígnia. Por ela formamos uma irmandade: protegemos e somos protegidos por ela.
Ilcea Borba Marquez
Psicóloga e psicanalista
E-mail: ilceaborba@gmail.com