Este BBB11 trouxe para discussão o transexualismo na figura da já expulsa Ariadna. Uma definição adequada desta experiência sexual passa, irredutivamente, pela diferenciação significativa entre o transexual, o travesti e o homossexual. O travesti e o homossexual se sentem homens; já o transexual se sente mulher e sempre se sentiu assim. O travesti e o homossexual gozam com seu pênis; já o transexual tem com ele uma relação de ódio e vergonha. A primeira diferença se refere ao sentimento de identidade e a segunda à importância do pênis. O transexual está disposto a sacrificar seu membro viril a fim de fazer concordar o real orgânico – masculino – e o imaginário psíquico – feminino.
Se o transexualismo responde a um sonho, o de mudar de sexo, sabe-se que ele faz sonhar e refletir aos não transexuais. Se até aqui a diferença dos sexos se deve muito ao simbólico e suas bipartições, e ao imaginário que fixa os papéis, ela pertence, em última instância, por aquilo que representa de incontornável, ao registro do real, ou seja, ela pertence à ordem do irredutível, contra o qual se pode bater, sem parar, a cabeça. O transexualismo mudaria, a este respeito, seu estatuto?
Para Catherine Millot (1992) o transexualismo é um fenômeno social ou até mesmo um sintoma da civilização. É definido como transexual uma pessoa que solicita a modificação do seu corpo para conformá-lo às aparências do sexo oposto, em nome da certeza de que sua identidade sexual verdadeira é contrária ao seu corpo biológico. Esta solicitação é nova, pois supõe uma oferta que a suscita, e que é feita pela ciência. Nada de transexual sem cirurgião e sem endocrinologista. Neste sentido, o transexualismo é um fenômeno essencialmente moderno.
Os juristas também se enquadram entre aqueles a quem os transexuais fazem um pedido além dos médicos cirurgiões e endocrinologistas e dos psicólogos: a alteração no registro oficial de uma nova identidade; todos imersos numa desafiante luta de poder sem limites capaz de ordenar, de legislar sem falhas e sem resquício a realidade humana. O transexual responde ao sonho de recuar e até mesmo de abolir os limites que marcam a fronteira onde começa o real.
O fato da expulsão da Ariadna do programa BBB11 de forma tão prematura, bem como a recusa da Playboy de um número dedicado a ela, revela sentimentos de rejeição, quem sabe preconceituosa, ao que representa?
(*) psicóloga e psicanalista