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Entre a dor e o prazer!

Buscar o prazer e evitar a dor! Esta é a crença difundida

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 19/09/2012 às 19:17Atualizado em 19/12/2022 às 17:18
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Buscar o prazer e evitar a dor! Esta é a crença difundida antes que se compreendam os sentidos da dor na constituição do sujeito, pois ela é o elo imprescindível de ligação e passagem entre o psiquismo e seu corpo. Com a dor abrem-se duas possibilidades: a primeira é a via da descarga; a segunda é ligá-la a um significado que a torna subjetiva e constituinte de um psiquismo. Quando a dor pode ser contida e transformada em experiência, e não apenas evacuação de uma superexcitação, dizemos que ela se tornou sonhável, podendo se instaurar como palavra – ser dita, pois aquilo que o sujeito não inventa não existe, já que o contato com o mundo precisa ser sonhado por ele à sua maneira, sem, no entanto, perder certo grau de estranheza.

“É com dor que se concebe o outro!” (Delouya). Desde o momento da concepção, o feto ocupa um lugar na fantasia e desejo de seus pais. De acordo com a história de satisfações e frustrações de cada um, os pais representam seu filho que está por vir, concebendo-o como um ser totalmente imaginário, que nunca sofra e sempre satisfaça. Essa existência antecipada, sonhada, planejada prepara para aquele ser em gestação um contrato que quase sempre ele não estará em condições de cumprir.

Em seu paraíso nirvânico, o feto, por sua vez, cumpre o que está planejado em seus genes, ignorando totalmente o que lhe espera fora da sua vida intrauterina. O momento seguinte, quando se dá o encontro entre pais e bebê, mostra-se violento para ambos. Para os pais, aquele bebê não é e nunca será aquele ser tão imaginado e tão esperado. Para o bebê, aquela nova morada nunca poderá acolhê-lo, provê-lo e satisfazê-lo como aquela que ele acabou de deixar. Frustração, decepção e raiva marcam esse instante de verdade insuportável para eles, selando, a partir de então, o destino de todas as relações vindouras. É assim que bebê e mãe se tornam realidades um para o outro.

Esta experiência inaugural de encontro está marcada pelo prazer de viver e dar vida, sem dúvida, mas também pela decepção, pela perda, pela depressão, comportamentos indissociáveis de todas as sensações presentes e futuras destes dois seres. Piera Aulagnier descreve esta vivência como paradoxo fundamental: Todo objeto fonte de prazer e de vida pode também se tornar para o Eu um objeto fonte de sofrimento e de destruição, e quanto mais um objeto é necessário ao prazer, mais intenso é seu poder potencial de sofrimento.

(*) Psicóloga e psicanalista

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