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Entre o proibido e o impossível

Joyce MacDougall relembra Shakespeare na sua comparação da vida com uma peça teatral. Para ele o homem encena pobres personagens colocados diante de desejos obscuros

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/02/2010 às 00:47Atualizado em 20/12/2022 às 08:18
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Joyce MacDougall relembra Shakespeare na sua comparação da vida com uma peça teatral. Para ele o homem encena pobres personagens colocados diante de desejos obscuros, desafiados a enfrentar empreitadas que se apresentam como necessárias, a seguir trajetórias que se unem a êxitos louváveis ou fracassos lamentáveis, sem que ele possa compreender as verdadeiras razões que motivaram estas metas e estes fins. O homem regula seus comportamentos atuais pelo passado, dentro da ótica de que permanecer no erro não é humano, ou ainda não quero fazer o que fizeram comigo, mas mesmo assim continua a reproduzir os mesmos dramas da sua infância, sentindo-se como se ainda fosse uma criança num mundo incompreensível de adultos.   Ao utilizar o enquadre teatral como comparação, Joyce busca esclarecer as forças motivacionais que atuam sobre o homem, revelando os lugares das cenas e os personagens que as representam. É com brilhantismo que conclui sobre a comédia humana que está continuamente entre o proibido e o impossível: contornar o proibido e negar o impossível. Aquele revela os processos libidinais do Eu; este concerne ao narcisismo. Como estão sempre juntos, convém diferenciá-los. O proibido é por definição possível. O que dá ao sujeito a impressão de que lhe é impossível realizar o incesto ou o parricídio? É a repressão que torna estes atos impensáveis. Mezan esclarece que nossas fantasias inconscientes põem em cena variações desses desejos nos sonhos e nos investimentos libidinais que nos singularizam como seres desejantes. São peripécias do drama edipiano que os analistas conhecem muito bem, acompanhadas pela culpa e pelas inibições que esta impõe ao gozo e ao prazer narcísico.   Continuando, Mezan nos fala que o impossível é aquilo que ignora os limites sem os quais não há individuação nem subjetivaçã a diferença das gerações e dos sexos, a alteridade que vigora entre mim e os demais, a existência inevitável da morte. Reconhecer esses limites e, portanto, renunciar à onipotência infantil são operações necessárias à maturidade do ser humano. Caso contrário, há uma expansão doentia do sujeito e uma tentativa de sujeitar o outro e o mundo a si mesmo, revivendo o sentimento oceânico dos começos. Este o impede de alcançar a dimensão realmente humana: ser o SER do DESEJO.

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