Os textos de Antonio Borges Sampaio nos levam ao encontro com Uberaba antiga, ainda arraial de Santo Antonio e São Sebastião, nomes presentes nas duas ladeiras
Os textos de Antonio Borges Sampaio nos levam ao encontro com Uberaba antiga, ainda arraial de Santo Antonio e São Sebastião, nomes presentes nas duas ladeiras que nascendo no topo da colina onde se ergue a matriz da cidade se opõem e crescem como se fossem extensão dos braços paternos. Defronte e debaixo do seu olhar protetor a Rua Grande ou Rua do Comércio onde as raízes econômicas da pequena cidade se estabeleceriam solidamente. Reconhecemos de imediato os ideais da então freguesia: a Igreja como convergência e irradiação.
Uma cidade sob os cuidados de dois santos: Sebastião e Antonio. Sobre o primeiro sabemos que nasceu em Narbonne – Milão e era membro da guarda pretoriana até ser descoberto em sua fé cristã pelo Imperador Diocleciano, o que lhe valeu a martirização e morte; o segundo nascido em Lisboa – Portugal muito popular no Brasil, reconhecido como santo dos pobres, casamenteiro, aquele que auxilia na procura dos objetos valiosos perdidos, talvez aquele que mais se presta a “simpatias populares”. Uma cidade que demonstrava desde sua sagração aos dois santos, pretender o acolhimento tanto de uma linhagem quanto da outra – tanto os da classe dominante quanto os populares.
Daquela pequena e pacata cidade, fruto dos sonhos e empenhos de tantos, indo e voltando ao paço central, levando perguntas e desafios e trazendo produção como num grande sistema cardiovascular que tem no coração o símbolo da vida e do amor, Uberaba tinha a sua praça da Matriz e a proteção de seus santos: coisas, talvez, esquecidas. Não estou falando dos casarões descaracterizados pela modernidade apelativa das grandes redes comerciais que vemos; mas sim do modo de ser uberabense, da “vida e alma de Uberaba” – religiosidade, aceitação e receptividade aos contrários mesmo que opostos.
Uberaba cresceu a partir de sua matriz e em seu entorno e, sua vida social e cultural acontecia a partir das celebrações religiosas que propunha e limitava prazeres. A religiosidade incentivava a música e a formação de bandas quase sempre a partir de uma regência secular, o apelo educativo logo propiciou os estabelecimentos de ensino comandados também por grupos religiosos.
É impossível impedir o crescimento e transformação de uma cidade, mas, devemos garantir a preservação da sua história e a divulgação dos seus feitos de forma que seus filhos saibam contar e entender todo o processo que resulta no que somos hoje depois de 190 anos.
(*) psicóloga e psicanalista