ARTICULISTAS

Entre verdade e mentira

Da simplificação primitiva e infantil onde verdade é a minha e mentira é a sua; podemos chegar

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 18/07/2018 às 19:11Atualizado em 17/12/2022 às 11:36
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Da simplificação primitiva e infantil onde verdade é a minha e mentira é a sua; podemos chegar à máxima filosófica onde a verdade é dividida entre verdade de fato, que significa aquilo que é contingente e cujo oposto é impossível, e a verdade de razão, que significa verdade necessária e cujo oposto é impossível. Já a mentira significa engano dos sentidos ou do espírito, erro ou ilusão. Podemos, também, levar a Lacan esta questão na sua seguinte fala: “Digo sempre a verdade: não toda, porque dizê-la toda não se consegue. Dizê-la toda é impossível, materialmente: faltam palavras. É justamente por esse impossível que a verdade provém do real.”

Concluímos, inevitavelmente, a partir desta busca, que nos deparamos com o impossível em todos os níveis já que a filosofia coloca-o no oposto da verdade, ou seja, na mentira, e a psicanálise coloca-o na própria verdade, pois a teoria psicanalítica assegura que a verdade está nas imagens inconscientes e as palavras na consciência que as representam. Estas são apenas representantes da verdade, provenientes do real e ligadas secundariamente “fora do real” ao inconsciente.

Entretanto, estamos constantemente sendo exigidos a diferenciar a verdade da mentira, principalmente nestes momentos inquietantes da política e das eleições democráticas. Onde está a verdade e a mentira; quem é verdadeiro e quem é mentiroso; qual a melhor opção para o Brasil; quem irá cumprir seu programa de governo tão bem preparado e enfeitado pelos especialistas em marketing eleitoral ou, melhor dizendo, eleitoreiro, cujo único objetivo é a vitória nas urnas eletrônicas?

Sabemos de antemão que encontrar a verdade e o verdadeiro é um ato de maturidade psíquica e muitos eleitores estão desconfiados, desiludidos ou ligados fusionalmente a um líder como a uma crença religiosa, e, assim, obnubilados ou deslumbrados como aqueles que os experimentam nos pródromos de algumas enfermidades ou como consequência de outras. Entre os que restam destas características já enunciadas ainda estão os numerosíssimos dependentes que visam cargos ou vantagens de alguém ou de algum partido político... O que nos espera em 2019? Infelizmente nossas perspectivas são desalentadoras porque estamos assistindo petrificados os desdobramentos de uma eleição norte-americana que esbarrou em todos os limites do impensável. Por lá também se fala em impeachment ao Presidente Eleito. Um exemplo republicano negativo que resultou na eleição e posse de alguém que seu próprio partido rejeita suas ações reconhecendo nele a “pior performance de um presidente norte-americano na história.”

(*) Psicóloga e psicanalista

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