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Errancia exemplar

A sociedade acompanhou entristecida e solidária o desfecho do caso Marcelo Silva X Suzana Vieira. Entristecida porque afinal mais uma morte por overdose aconteceu;

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 15:03
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A sociedade acompanhou entristecida e solidária o desfecho do caso Marcelo Silva X Suzana Vieira. Entristecida porque afinal mais uma morte por overdose aconteceu; solidária porque enfim as máscaras caíram e o verdadeiro se apresentou na mais cruel rudeza: mesmo com a face da “amada” tatuada no peito outras amadas viviam as delícias do “amor traidor e traiçoeiro” no gozo de ser maior/melhor do que a famosa artista de tão grandes desempenhos e tanto sucesso! Mesmo que por um breve instante podiam imaginar-se vitoriosas ao penetrar os limites estabelecidos de um casal tido como amoroso!

Doce engano! Essas outras não queriam e, portanto, não puderam compreender a falácia do prazer vivid ao imaginarem-se grandes vencedoras de tão acirrada disputa se distanciaram do ditado popular de grande e eficaz ajuda: não se deve recolher para o interior de sua própria casa o “lixo” da casa dos outros! Também revelaram por suas atitudes a prioridade pelo exterior e superficial em detrimento do interno e profundo; porque detrás da bela estampa, do corpo sarado, malhado e esculpido à perfeição encontrava-se um ser primitivo e imaturo, ligado apenas a si mesmo e suas ruminações compulsivas; alguém incapaz de experimentar o sentimento do “fora de mim”, sendo assim incapaz de relacionar-se com um outro que não seja si mesmo – um toxicômano que só toma consciência do sagrado por meio do seu produto tóxico através do qual pode saturar-se de potência, abrir-se a uma direção de sentido em meio a uma existência amorfa.

Mesmo estando em busca de uma experiência de superpotência, o consumidor ilícito vive modificações da consciência que o fazem acreditar em experiências extraordinárias às vezes violentas e fulgurantes que, no entanto, são uniformes e robotizadas, semelhantes ao martelamento das percussões technos das noites rave. Nessas ocasiões a maioria dos presentes veste uma roupa de camuflagem do tipo militar, mantôs com capuzes de cor caqui e largas calças baggies. Cada um rumina seu mundo, natural ou sintético, tenta abrir as portas da percepção caras ao deus da alquimia, ao pai do LSD e sonha sem futuro.

Mesmo imaginando afastar-se do pai, buscam-no em outro lugar, em outro personagem; mesmo desejando uma liberdade ilimitada, limitam-se nos uniformes disciplinados e rígidos dos exércitos.

(*) psicóloga e psicanalista

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