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Esperança de esperar

A esperança contém em si mesma o esperar e significa o ato de esperar o que se deseja...

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 06/01/2016 às 20:56Atualizado em 16/12/2022 às 20:37
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A esperança contém em si mesma o esperar e significa o ato de esperar o que se deseja. Esperança também é “a segunda das três virtudes teologais, simbolizada por uma âncora”, onde podemos deduzir a mensagem de estabilidade e segurança. Estar de esperanças é achar-se grávida a mulher. Esperança também é o sentimento próprio desta passagem de um ano para o outro, o fim de 2015 e começo de 2016. É a esperança que nos guia nestes tempos: a renovação da vida, o término de um ciclo e início de outro.

No balanço de 2015 encontramos intensa movimentação social em busca de mudanças políticas e sociais. O que esperar de 2016? Desde a sua descoberta, o Brasil e os brasileiros esperam dias melhores. Foi esta a atitude dos nativos destas terras em relação aos homens brancos que aqui aportavam. São estas as palavras de Manoel da Nóbrega referindo-se aos indígenas brasileiros: a população primitiva é “uma folha em branco”, absorve suavemente os novos regulamentos e deixa espaço para os ensinamentos. Por toda parte, os nativos recebem os brancos sem desconfiança: “Onde quer que vamos, somos recebidos com grande boa vontade”. Eles deixam que os batizem e, agradecidos e dóceis, seguem para a igreja – e por que não? – os padres, os “bons brancos”, que os protegem dos outros, os “brancos maus”. Evidentemente, os jesuítas sabiam reconhecer neles a indolência e a ausência de crença cultural e pessoal que se manifestava numa passividade submissa não menos perigosa que qualquer reação rebelde e guerreira evidenciada em mudanças bruscas de humor e atitudes capazes de fazer brotar os canibais de então. Mas, a ideia de uma só nação, uma só língua e uma só religião ficou realmente marcada como uma primeira e fundamental herança dos nossos colonizadores.

Tempos atrás, na era Collor, bastou um Fiat Elba na sua garagem para substanciar o impeachment, atualmente os bilhões denunciados e confirmados não concretizam o pedido do povo! Antes que a “desesperança” se cristalize, aprendemos que a manutenção do poder depende de maioria parlamentar e apoio popular. Se o atual governo perde em apoio popular, ainda mantém a força parlamentar, o que lhe abre a possibilidade de negar sua fragilidade, protegida por falsa ideia de governabilidade.

Propomos criar no calendário um dia de reflexão nacional – 16 de agosto, porque há 23 anos, exatamente neste mesmo dia, os “caras pintadas” deram início ao processo de impeachment do presidente Collor, que começou seu desgoverno com o confisco das cadernetas de poupança e das contas correntes, terminando com a expulsão sumária do cargo presidencial! Não podíamos esperar outro percurs um começo desastroso e um fim coartado, recheado com inflação e empobrecimento popular, porque, como sempre, a conta do mau governo é paga pelo contribuinte.

(*) Psicóloga e psicanalista

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