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Espírito natalino

O depoimento emocionado de uma senhora

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 25/12/2012 às 12:03Atualizado em 19/12/2022 às 15:36
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O depoimento emocionado de uma senhora ao dizer chorand “Voltei a ser criança!” quando participava das festividades constantes no Natal de Luzes de Gramados deste ano contagiou a todos pela palavra plena de emoção verdadeira ao mesmo tempo em que veiculava uma mensagem incorreta ao ligar a vivência de uma forte emoção a um período infantil da vida como se ao longo do tempo os adultos fossem perdendo a capacidade de emocionar-se diante das luzes, cantos e encenações teatrais desta época do ano. Mesmo que a figura/símbolo do Papai Noel seja produto de alterações publicitárias da indústria em busca de maior mercado consumidor, a mensagem que o São Nicolau Taumaturgo – arcebispo turco – traz são verdades necessárias à vida em qualquer época.

O Papai Noel vive com sua família: a Mamãe Noel e os elfos no Polo Norte ou na Finlândia gerenciando uma fábrica de brinquedos e anualmente os distribui entre as crianças que durante o ano demonstraram merecê-los.

O primeiro significado da sua imagem é a família: o mais fundante e mais importante grupo social que o indivíduo pertence, porque é através da vida relacional familiar que se forma a matriz da identidade; aquilo que serve de substrato profundo do ser e que reconhecemos como definidor diferencial das pessoas a ponto de podermos falar: isso é ele ou isso sou eu! As primeiras identificações se formam a partir de introjeções das imagos maternas e paternas que mesmo sendo reorganizadas durante todo o tempo do viver mantêm suas primeiras marcas mnésicas.

A família tem uma função interna de proteção psicossocial de seus membros e uma função externa de acomodação a uma cultura e sua transmissão. É na família que deparamos com os mistérios universais do nascimento, do sexo e da morte. Estes de uma forma geral estão sempre cercados por tabus e mitos sociais provocando sentimentos inomináveis, pertencentes ao inconsciente recalcado devido aos pactos familiares e/ou sociais que nada mais são do que segredos compartilhados e defendidos pelos seus membros. A compreensão consciente destes fatos nas suas ressonâncias internas representa libertação de compromissos estranhos ao eu e seus efeitos danosos. Vale a pena ressaltar que família é um termo derivado do latim “famulus” que significa “escravo doméstico” adotado pela Roma Antiga na época do desenvolvimento da agricultura e da instituição dos serviços escravos feitos pelos grupos sociais de vencidos.

Somente o conhecimento das próprias reações a estes fatos misteriosos propiciará a liberdade de emocionar-se sem medo, tal qual uma criança!

(*) Psicóloga e psicanalista

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