A vitória da Elisa Araújo em Uberaba – primeira eleita para o cargo máximo no Executivo da cidade – surpreende inicialmente e abre questões pontuais que necessitam balizar as ações dos próximos anos capazes de responder aos descréditos iniciais bem como ao maciço apoio recebido, efetuado por todos aqueles que desejam ardentemente mudanças significativas no processo e projeto eleitoral daqui pra frente.
Dá pra contar nos dedos mulheres que ao longo da história até mesmo mundial estiveram à frente no Poder com a possibilidade de governar países, homens e exércitos até mesmo nas situações extremas de colapso social. Lembro-me agora da Rainha Vitória, Catarina de Médici, Imperatriz Maria Tereza da Áustria, D. Maria II de Portugal, D. Isabel da Espanha.
No Brasil Imperial tivemos três períodos de regência da Princesa Imperial Regente D. Isabel nos períodos de afastamento de D. Pedro II. Regências sustentadas constitucionalmente que despertavam insegurança em alguns e esperança de redenção em outros. Mesmo com o aval da Carta Magna o descrédito se apresentava até mesmo para os próprios atores principais nos respectivos papéis. Assim lemos a própria Imperatriz Regente em carta destinada ao Pai D. Pedro II em junho de 1871 após o primeiro despacho com os ministros: ... “quando Papai partiu pareceu-me coisa tão esquisita ver-me assim do pé para a mão uma espécie de imperador sem mudar de pele, sem ter uma barba, sem ter uma barriga muito grande.” Em seguida conclui: “Felizmente a coisa foi mais fácil do que julguei à primeira vista.” Como regente temporária D. Isabel pretendia seguir a rotina ao dar respostas lacônicas como as do pai. Mesmo assim na terceira regência assinou em 13 de maio de 1888 a Lei Áurea passando para a história do Brasil como a Redentora – aquela que deu liberdade aos escravizados.
A publicação dos resultados das urnas eleitorais revela uma verdade espantosa – a candidata Elisa Araújo não disputou eleição com outro candidato, mas sim com todos aqueles que não compareceram, anularam ou votaram em branco. Vejamos, dos 225.412 mil eleitores de Uberaba, Elisa obteve 85.990 mil votos; brancos, nulos e abstenção totalizaram 75.490 mil e o candidato Tony Carlos obteve 63.932 mil votos ficando, portanto no terceiro lugar da disputa. Esta análise comprova o descaso dos eleitores, a desconfiança nos políticos, a descrença nos motivos que movem tantos na busca dos cargos de eleição, ou em outras palavras o sentimento comum de estarem presos nas teias escravizantes dos poucos que detêm o controle do Poder nas suas diferentes modalidades – como se adquire, se conserva e se perde!
Ilcea Borba Marquez – psicóloga e psicanalista
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