O que você faria se encontrasse uns 1.000 jovens em disparada, cantando Funk Ostentação, nas avenidas do shopping? Provavelmente correria no sentido contrário para fugir da ameaça de ser envolvido e pisoteado pela massa humana desorganizada, assustado pela mensagem de agressividade que a cena contém, lembrando-se também dos famosos “arrastões” que ameaçavam banhistas nas praias e calçadões do Rio de Janeiro. Pois é, este fenômeno social “rolezinho” é a última invenção dos sujeitos adolescentes brasileiros em seu afã de marcar presença e atrair o foco das notícias sobre si mesmos. Diante de tanto barulho não podemos emudecer. Atender ao chamado destes jovens é buscar uma compreensão do fenômeno, é tentar conhecer para facilitar a gerência social do mesmo.
Acompanhando jornalistas e antropólogos que publicaram textos nesta semana, extraímos o seguinte: há tempo os jovens têm encontros marcados em shopping pela internet, aos quais comparecem milhares ou centenas de adolescentes, dependendo dos líderes que iniciam os convites; estes encontros acontecem nos shoppings da periferia como o Metrô Itaquera, o Tatuapé, o Guarulhos, o Interlagos e o Campo Limpo; aqueles que conseguem a façanha de congregar milhares de jovens representam a elite da periferia, liderança conseguida pelo número altamente significativo de seguidores no Facebook; atualmente eles também se encontram para correr em bandos pelos corredores, berrando refrões de funk ostentação, assustando lojistas e frequentadores e, ocasionalmente, cometendo furtos – os novíssimos “rolezinhos nos shoppings”.
De um fenômeno cultural rotineiro da periferia de São Paulo, onde se objetivava curtir, tumultuar e tirar várias fotos, desde dezembro passado passou a frequentar a mídia global, quando se somou aos encontros a atitude agressiva do moviment uma massa humana em disparada, as canções funk e os ocasionais furtos.
A pesquisa das antropólogas Pinheiro Machado & Scalco, realizada em Porto Alegre no ano de 2009 - Bondes de Marca -, parece-nos que analisou o fenômeno social dos encontros em sua fase anterior, antes das mudanças ocorridas em dezembro/2013. Mesmo assim os jovens líderes entrevistados desta última semana rejeitam as teses de segregação de classes e as explicações de caráter social que veem nos rolezinhos a expressão de um desejo de pertença a um mundo consumista que lhes seja vedado. Eles não se identificam com os papéis de “coitados excluídos”, tendo em vista o lugar destacado que lhes confere a liderança exercida entre seus iguais e o expressivo número de seguidores nas redes sociais. Eles se pensam poderosos, incluídos, com acesso garantido às roupas e marcas que gostam.
Entre a política e o prazer, mais uma vez nossos sujeitos adolescentes escolhem o caminho mais curto e prazeroso, atendendo ao seu inesgotável desejo de rebelião contestatória em permanente desafio às leis vigentes criadas para facilitar a vida em sociedade ao definir limites e estabelecer punições.
(*) Psicóloga e psicanalista ilceaborba@netsite.com.br