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Família igualitária

Um novo termo se impõe aos que estudam os relacionamentos familiares a partir do livro "A família em desordem", escrito por Elisabeth Roudinesco

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 04:07
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Um novo termo se impõe aos que estudam os relacionamentos familiares a partir do livro "A família em desordem", escrito por Elisabeth Roudinesco, onde ela reconhece que a família, na atualidade, se assemelha a uma "tribo insólita, a uma rede assexuada, fraterna, sem hierarquia nem autoridade, e na qual cada um se sente autônomo ou funcionalizado". Sérvulo Figueira propõe a denominação Família Igualitária porque esta se apresenta regulada pela ideologia do igualitarismo em contraposição à família tradicional ou hierárquica que perde espaço cultural.

Savietto, B. esclarece que na família hierárquica os indivíduos eram definidos com base em sua posição, sexo e idade. Nela vigoravam numerosas idéias sobre o certo e o errado, e existia uma relativa organização onde nós poderíamos denominar: um "mapeamento" – homem e mulher percebiam-se como intrinsecamente diferentes, agindo de acordo com o que era tido como adequado a cada sexo; pais e filhos também se relacionavam ancorados na idéia da existência de diferenças intrínsecas.

Na atualidade, homem e mulher se percebem como iguais porque são indivíduos e as diferenças de sexo, idade e posição se subordinam às diferenças pessoais, aparentando serem apenas questão de gosto próprio. As noções bem delineadas de certo e errado perdem suas fronteiras, a noção de desvio de comportamento, pensamento ou desejo perde a clareza, e instaura-se, aparentemente, o reino da pluralidade de escolhas, que só são limitadas pelo respeito à individualidade do outro.

Um outro aspecto da família atual, como apresenta Mayer, é que tanto o homem quanto a mulher puseram o espaço da casa em segundo plano. A mulher que antes possuía o domínio exclusivo da vida familiar, lançou-se numa busca de reconhecimento e poder nos demais espaços sociais. O homem, por mais que se maternalize, não tem como substituir as funções maternas de forma apropriada e integral. Para o autor, nos dias de hoje os filhos se acham afetivamente órfãos, sem uma figura de pai forte, respeitável, que proteja, e sem a sustentação de uma mãe terna, tolerante. Estes filhos estão à deriva, sofrendo traumaticamente o impacto das contradições sociais. O enfraquecimento das referências parentais gerou mais do que uma sensação de liberdade; gerou principalmente um profundo sentimento de desamparo.

Parece-me imprescindível um movimento cultural de compreensão destas novas realidades a fim de que possamos atender aos inúmeros pedidos de socorro destes jovens, que se percebem impotentes frente a imperiosas e incontroláveis pressões internas, levando-os a ações impulsivas e compulsivas onde não basta agir – estuprar –; é mesmo obrigatório divulgar pela internet.

(*) psicóloga e psicanalista

ilcea@terra.com.br

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